Num jogo de cautelas, saiu a terminação ao Benfica, diz o senhor Encarnado, falta agora a sorte grande, mas esta só sai daqui a duas semanas em terras de sua majestade.
O actual campeão europeu, de facto, não foi ambicioso. Terão pensado: o Benfica continua a ser um clube de segunda linha na montra europeia e a eliminatória resolve-se em Anfield Road. No entanto, a gestão do plantel e a contenção do Liverpool não deixaram de surpreender.
O Benfica revelou limitações ofensivas, um ataque fora de forma e um meio campo quase sem ideias. Na defesa, Luisão e Léo, acolitados por Anderson, revelaram acerto e disfarçaram hesitações de Moretto e Alcides. Karagounis foi carta de trunfo jogada na segunda parte, segurou a bola e passou-a bem, movimentou-se nas imediações da área adversária, trouxe geometria e preparou o dueto de Petit e Luisão.
O pé de um e o crânio de outro proporcionaram novamente no minuto 84 a explosão do inferno da Luz: Sporting e Liverpool saíram cabisbaixos.
No Brasil distribuem-se preservativos, prevenindo as distracções sexuais na folia carnavalesca. Por cá os rapazes correm à florista e tentam reservar a mesa do canto no restaurante para mais uma noite de S. Valentim. No Brasil prepara-se a noite em que se esquece a corrupção, a miséria, a criminalidade, a noite em que os corpos quentes seguem o ritmo do instinto. Por cá o comércio enche as montras com corações e os bolsos com o dinheiro daqueles que não resistem à celebração artificial de um romantismo aparentemente perdido.
Entre a vertigem sexual do hemisfério sul e o oportunismo comercial do hemisfério norte desenha-se um mapa não muito legível das relações afectivas no século XXI.
O frio dissipou-se, a gélida Dinamarca aqueceu o globo terrestre e parece não haver remédio - 2006 segue o trilho de um mundo profundamente dividido.
Os tumultos, o radicalismo, a violência escalam e o abismo parece inevitável. Oriente e ocidente viram costas e a diplomacia apenas permite que se afiem as facas.