Este governo de matriz socrática definitivamente arvorou-se em Robin dos tempos modernos: roubar aos incompetentes para dar aos competentes. Incontestável justiça premiar a competência, mas reconhecê-la através de critérios de fiabilidade inatacável será um problema num país que fez da cunha uma instituição.
Maria de Lurdes Rodrigues, discípula desta vertigem robinesca do governo, responsabilizou recentemente os professores pelo insucesso escolar e a falta de qualificação dos alunos, criticou o funcionamento dos estabelecimentos de ensino e atacou com a revisão do estatuto da carreira docente.
Maria de Lurdes acredita piamente que a incompetência grosseira dos professores do nosso país envergonha o país e o governo.Também acredita que os bombeiros são responsáveis pelos hectares destruídos por incêndios. Os alunos são vítimas de vampiros docentes que sugam o precioso orçamento do ministério da educação, nada oferecendo em troca. Portanto, Maria de Lurdes e o seu séquito não pactuam com as infindáveis regalias dos professores. Há que distinguir o trigo do joio - criar professores moldados por Maria de Lurdes que sejam referência para os outros docentes e que combatam o insucesso escolar.
ZD arrisca uma solução menos complexa: o professor como presença simbólica no processo de aprendizagem, decidindo o aluno, após reflectir com o ponderado encarregado de educação, a respectiva progressão.
Nada move ZD contra o Carrilho. No entanto, muito antes das queixinhas do Carrilho, houve quem, sem oportunismo e com legitimidade, descobrisse levemente esta ferida que é a promiscuidade entre os poderes económico e político e a comunicação social.
Sob o Signo da Verdade não é a pedrada no charco do mau jornalismo e não existiria se o autor fosse hoje Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ou se a comunicação social tivesse desviado a atenção de um vídeo de propaganda política de mau gosto e um percurso na campanha recheado de incoerências (como apontou JPP - ora não apertava a mão ao Carmona, ora apertava). Este livro não remove o lodo deste universo de troca de influências e de falta de ética e rigor, acrescenta lodo (o Rangel do Texas apressou-se a limpar o nome do Luís Delgado depois de o sujar precipitadamente na noite de segunda).
O problema do Carrilho é mais simples do que o problema do escrutínio da comunicação social: não se pode cuspir no prato onde também se come.
Manuel Maria Carrilho: professor, filósofo, político executivo, deputado, comentador ácido, marido da Bárbara Guimarães, pai, capa de revistas, consumidor compulsivo de laca. Nestas infindáveis ramificações do Carrilho, resta o tronco: enamorado de si mesmo.
Sob o signo da verdade, o Carrilho afirma categoricamente que não perdeu as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, foi vítima de um miserável conluio. Afinal o homem que dorme com a Bárbara Guimarães não nasceu para perder, é um conquistador.
O Carrilho é um intelectual e escreveu um livro. Com o penteado impecavelmente alinhado na capa, o Carrilho tem uma missão a cumprir: rangelizar o jornalismo português, criando assim nos meios de comunicação social uma corte de admiradores (reminiscência dos bons velhos tempos de ministro da cultura), e impedir que homens da sua estirpe voltem a ser sujeitos à humilhação da derrota.
O Carrilho lembra o Dantas, o Carrilho cheira mal.
ZD descobriu recentemente que completará ainda durante este ano 12 mil dias sobre o planeta Terra, antes de atingir a idade crística de 33 anos.
Os números apontados não serão suficientes para erguer um Código ZD, construir um mistério denso em torno de uma trivial existência. No entanto, fica o registo.
Fidel Castro tem mais dinheiro que a rainha de Inglaterra - eis a notícia que surgiu há uns dias num vertiginoso rodapé dos noticiários televisivos.
Cuba é um poderoso magnetizador para a atenção de ZD, que em saudosos tempos vagueou por esta mítica ilha. Fidel Castro, símbolo de uma utopia catastrófica, é estranhamente comparado com a rainha de Inglaterra (a única semelhança que ocorre é o facto de ambos viverem numa ilha).
A pseudo-inocência comunista tentou manter uma neblina à volta deste ditador que permitisse ver o resistente, o combatente, e não o demagogo, o agressor de elementares direitos humanos, o homem que tem mais dinheiro que a rainha de Inglaterra.
De Cuba permanece a saudade da areia da praia, da água cristalina, das folhas de tabaco a secar, da simplicidade das pessoas, da degradação dos edifícios, dos muros pintados: Liberdade ou morte!
Numa sexta-feira intermitente, ZD inicia um espaço de reflexão linguística (afinal os blogs serão a possibilidade de sobrevivência da nossa língua tão maltratada neste info-universo). Futuras questões que surjam serão encaminhadas para a patrona do bem falar e bem escrever: Mrs. Edith Star. Segue-se o primeiro (e provavelmente único) capítulo.
- És uma vaca!
- E tu, um jumento!
- Desaparece, baleia!
- És um porco!
Houve um tempo em que os animais eram venerados, protagonistas de fábulas, sinal de abundância. Hoje os nomes que os designam não são mais do que uma espécie de jargão difamatório. Vejam a diferença:
- És uma promíscua!
- E tu, um ingénuo!
- Desaparece, obesa!
- És um misógino!
E comparem a expressividade.
O dia do Trabalhador, eis um feriado que se justifica, ZD ousa mesmo sugerir que uma semana também se justificaria.
Curiosamente o Trabalhador - escravo do capitalismo, das ditaduras, dos fundamentalismos - não festeja o seu dia, não aproveita para dormir até mais tarde, almoçar com a família, passear, cultivar a ociosidade reprimida. O Trabalhador sai para a rua e protesta. Não reivindica melhores condições de trabalho, melhor remuneração, reconhecimento do seu valor social. O Trabalhador sai para a rua e integra manifestações organizadas não sabe bem por quem. Incapaz de se reconhecer indivíduo, marcha e segue as instruções do homem do megafone e chega ao final do dia do Trabalhador cansado de mais uma jornada que se esgota.