Estes dias finais de Junho esconderam o sol e ZD, um confesso apolíneo, brevemente parte à procura de sol e areia branca. Chegou, portanto, a altura de um intervalo para retemperar as forças, sondar a sabedoria maia e saborear o mescal. Até mais.
Ainda a recuperar de um fim de semana vertiginoso, ZD é confrontado com um verdadeiro quarteto de ataque.
Em torno da polémica figura de Scolari, Robin, Beterraba, Roque e Pirata esgrimem argumentos e constroem uma interessante reflexão sobre um país angustiado com o quotidiano mas ciclicamente assaltado por uma euforia fugaz.
É certo o regresso, após o desenlace do mundial de futebol, à triste vidinha. Os noticiários televisivos voltarão a ter que abrir as emissões com a notícia de mais uma empresa que fecha as portas e a indignação dos (des)empregados. No entanto, é difícil resistir e não embarcar neste barco de ilusões que é o futebol.
Os tempos correm de feição para os apologistas de Scolari. Num jogo com contornos de batalha campal, Portugal bebeu o sumo de uma laranja amarga (a vodka russa também não ajudou). Portugal mostrou-se estóico e teve em Ricardo Carvalho e Miguel dois faróis no desnorte que marcou o embate. Scolari, incansável e perspicaz na análise da evolução do jogo, teve a festa de apuramento para os quartos de final e não se esqueceu de recordar a responsabilidade principal nos incidentes do jogo ao jovem Marco (um grande jogador mas tenro treinador que nesta altura já regressou à montanha onde se encontrou com a Heidi).
ZD não encontra razões para incensar Scolari, aliás afirmar que a competência no mundo de futebol tem que ser bem paga é ridículo (perdeu-se a noção da realidade e o pudor há muito tempo em relação ao que jogadores ou treinadores ganham), mas estamos efectivamente longe do que se passou há quatro anos no mundial Coreia / Japão.
Quanto ao Quarteto de Ataque, não se esqueçam que a estratégia defensiva também é importante: dia 9 de Julho, talvez antes, regressamos à dura realidade
Em época de exames nacionais, ZD atribui um 13 ao desempenho de Portugal no último jogo. Este suficiente próximo do bom reflecte o crescimento que a equipa evidenciou no seu segundo e nuclear embate (incontestavelmente mais sólida, contudo passiva no pressing defensivo, lenta nas transições e previsível nas manobras atacantes). Deco interrompeu a desinspiração e a partir do primeiro golo Portugal não vacilou e resolveu.
O México transformou-se num aprazível ponto de passagem para os oitavos de final, quando se desenha no horizonte uma indefinição entre o alviceleste e o laranja.
ZD concorda totalmente com Robin: Scolari devia ganhar mais. Cinco jogos serão suficientes, mas para já saboreemos o doce México.
Costinha mostrou-se incrédulo esta tarde em relação a parte substancial da população portuguesa (aquela que vê os jogos da selecção e não resiste ao comentário no final). No entanto, as críticas não o preocupam e no seio da selecção nacional impera a concentração que desvia a atenção das críticas. Tudo o que de mau é dito e escrito sobre a selecção "morre à nascença" quando chega ao balneário. Por outras palavras, o comentador é vítima de um parto que corre mal, o comentário não chega com vida a quem visa.
Scolari tem de facto um grupo de jogadores em que a sintonia se revela mais nas conferências de imprensa do que em campo, mas as palavras de Costinha evidenciam uma união por parte da equipa em torno do seleccionador inaudita. Será interessante observar até onde esta união levará Portugal.
Não sei se o seleccionador estava à espera que a comunicação social se mantivesse em silêncio até ao fim do mundial, todavia definitivamente a partir daqui não há duvidas: o sucesso ou insucesso da selecção tem um rosto ainda mais incontornável - mister Scolari.
Por Portugal fora o grito de golo não tardou, Figo, contrariando a lei da idade, entrou na área angolana e serviu o oportuno Pauleta que friamente concretizou o 1-0.
Os mais cépticos respiraram fundo, acreditavam piamente que Portugal obrigaria a sofrer até ao fim. Não se enganaram, a parte inicial do jogo foi quase um embuste. Portugal, crente na sua força e nas fragilidades angolanas, diminuiu a velocidade, esperou ingenuamente que Angola assumisse uma postura mais ofensiva e não controlou o meio-campo. No final do encontro o antigo colonizador ficava com os 3 pontos, mas a festa era dos angolanos.
Figo foi a figura do jogo, decidiu no início e não descansou até ao apito final. Miguel esteve igualmente em bom plano, controlou defensivamente e provocou desequilíbrios no lado esquerdo da defesa angolana no ataque. A restante selecção pautou-se por uma relativa mediania, cumprindo modestamente o que era exigido.
Scolari no final tocou na ferida - a selecção portuguesa tem um curriculum pobre nos mundiais e a inexperiência não ajuda em competições onde a margem de erro é extremamente reduzida - contudo o nervosismo evidenciado pelo seleccionador no confronto com os comentários mais ou menos contundentes do jogo não dá indicação da tranquilidade necessária para o desafio que se segue.
Sábado, contra o Irão, espera-se mais que cinco minutos de bom futebol, espera-se maior segurança, confiança e coesão na defesa e no meio-campo, espera-se menor hesitação entre o chuta, chuta e o passa, passa no ataque.
O apego à selecção nacional não é diferente do apego clubístico. A irracionalidade comanda, a objectividade é toldada pela emoção.
ZD confessa-se adepto incondicional da selecção portuguesa desde o Europeu de 1984 (os dribles de Chalana, o sentido de oportunidade de Jordão, as defesas de Bento). Esta adesão emocional não é motivada por este seleccionador ou por aqueles seleccionados, tem a ver com a identificação com um país em particular e o futebol.
A discussão em torno de Scolari e qualquer seleccionado (a questão Quaresma depois do Europeu desvaneceu-se) é obviamente aceitável, todavia não deveria inquinar a relação com a selecção. Scolari é o seleccionador, com os seus tiques e as suas opções, terá que ser avaliado pelo percurso no Mundial. Os seleccionados não estão na Alemanha por uma questão de patriotismo (afinal na véspera das grandes competições discute-se mais os prémios dos jogadores do que as tácticas) e por conseguinte exige-se uma postura profissional.
Siga a cerveja.
O Mundial de Futebol surge como ocasião propícia para os socratófilos assistirem à implementação de novas medidas rigorosas e ousadas por parte do seu mentor, aproveitando o povo de olhos na televisão e alheado da realidade quotidiana.
Sócrates acredita no valor da nossa equipa, ZD desconfia, mas também participará neste surto de alheamento.
O mundial regressa à Europa, portanto os jogos decorrem a horas decentes e as surpresas serão menos prováveis. Melhor assim, ver na parte final da competição equipas como a Coreia do Sul ou a Turquia não agrada definitivamente ao expectante espectador ZD.
Avançando por um caminho previsível, Brasil e França surgem no prognóstico de ZD como principais favoritos. Os mais recentes campeões mundiais (2002 e 1998) possuem soluções abundantes e os dois maiores desequilibradores: Ronaldinho e Henry. Factores menos positivos poderão ser no Brasil a euforia e o excessivo balanço ofensivo do quadrado mágico e na França o peso da idade de alguns jogadores.
Inglaterra, as inevitáveis Argentina e Itália constituem uma segunda linha de favoritos. Equipas com experiência, qualidade e argumentos sólidos: Terry, Lampard, Gerrard, Messi, Riquelme, Crespo, Buffon, Nesta, Totti são exemplos.
A terceira linha é composta por selecções de cujo curriculum não consta o título de campeão mundial: Espanha, Holanda, República Checa e Portugal. O melhor futebol do mundial poderá passar por aqui - equipas com maturidade, excelentes jogadores e tecnicamente evoluídas. No entanto, os percursos destas selecções nos últimos torneios revelam fragilidade competitiva e oscilação de rendimento, factores penalizantes numa competição com os contornos de um mundial.
A Alemanha, distante dos tempos em que o futebol era um desporto jogado por 11 contra 11 onde normalmente a Alemanha ganhava, está neste vaticínio condenada a ser apenas um ameno anfitrião. Haja cerveja.
A palavra populismo ganhou irremediavelmente uma conotação negativa, populismo, com o sentido original de simpatia pelo povo, transformou-se em demagogia e hipocrisia.
De facto, o presente governo do nosso país não é populista, não tem simpatia pelo povo. Alçando a bandeira da governabilidade, Sócrates ataca sistematicamente as regalias de quem pode, dos funcionários públicos mais precisamente.
O autismo travestido de coragem surge potenciado na figura da ministra da educação. A questão não está na participação dos encarregados de educação na avaliação dos professores (também existem leituras demagógicas de artigos, não é pirata?), nem noutras propostas de alteração do estatuto de carreira docente. A questão é o discurso irresponsável e demagógico da ministra: os professores e os estabelecimentos de ensino são acusados de maneira leviana, havendo uma absolvição implícita dos sucessivos governos incapazes de construir uma verdadeira política educativa. No entanto, se o sr. Sócrates e a sra. Maria de Lurdes só visitam escolas-modelo, andam distantes das escolas reais.
Nem tudo tem a ver com cores políticas (sucessivas lavagens tornaram difícil distingui-las), e ocasionalmente o governo socrático poderia ser populista, pensar a sério no povo e esquecer o umbigo.