2007 já surge no horizonte, antes chega a festa da família e eis uma época propícia aos lugares comuns.
Mais um Natal, mais um ano, mais playstations para os meninos (coitadinhos, apesar das péssimas notas, eles até se esforçaram), mais bacalhau sacrificado, mais mensagens de telemóvel (os amigos e familiares que não se lembram da nossa existência durante 364 dias são assaltados pela suprema necessidade de desejar algo de bom a alguém), mais réveillons, mais espumante, mais uns quilos e menos paciência para este frenesim dos dias finais de Dezembro, menos dinheiro nos bolsos (quem é que se lembrou das trocas de prendas?), menos futebol (de que é que se vai falar nos cafés?), menos artigos de ZD (que estrategicamente regressa em 2007, contrariando a esperança média de vida de um blog).
Entre os mais e os menos, um óptimo Natal e um prospérrimo 2007.
P.S. ZD faz também votos que 2007 traga Democracia Chinesa, aliviando a angústia insuportável dos que crêem que Axl Rose ainda é relevante no mundo da música.
Os dias passam e 2006 já se encontra bem madurinho, portanto vamos à colheita.
Por onde começar, quando receamos que a memória nos traia?
O futebol parece uma opção óbvia, afinal 2006 foi ano de mundial. Quando Ronaldinho, Eto'o, Deco e companhia levaram o Barcelona à vitória na Liga dos Campeões com sucessivos recitais de futebol ofensivo, nada faria prever o que iria acontecer no mundial. Francamente mais interessante que o Japão/Coreia do Sul 2002, o Alemanha 2006 teve na final duas equipas que fizeram da consistência defensiva a sua principal arma. A cabeçada de Zidane, reagindo ao discurso fraterno de Materazzi, surge como ponto culminante do mundial. Cannavaro e Buffon foram nomes incontornáveis na squadra azzurra. A selecção portuguesa e Scolari tiveram os seus momentos. Apesar das derrotas contra a França e a Alemanha, o quarto lugar afirma uma selecção que não há muito tempo era quase irrelevante no mapa do futebol mundial.
A nível nacional, nada de verdadeiramente novo: domínio total do F.C.P. e S.L.B. e S.C.P. com os seus altos e baixos. No entanto, a senhora Carolina Salgado decidiu apimentar um pouco o final deste 2006, revelando algo que ninguém desconfiava: o estreito convívio de Pinto da Costa com os nossos árbitros no recesso do lar.
Em frente, 2006 musicalmente foi um ano interessante. Será suficiente referir os novos álbuns de Lambchop, Bonnie Prince Billy, Sufjan Stevens, Bob Dylan, Neil Young, Tom Waits, Beck, entre outros. Nesta ponta final de ano, ZD arrepiou-se com os arpejos da harpa de Joanna Newsom numa obra belíssima que tem como título Ys.
Ao vivo, de novo Paredes de Coura surge como ponto alto: quem resistiu à chuva teve a oportunidade de conhecer Wolf Parade, reconhecer Morrissey, aplaudir Yeah Yeah Yeahs e Bloc Party, estranhar e entranhar Gang of Four e The Cramps,vaiar Os Maduros e pedir ao Zé Pedro para não cantar mais. Não teve o carisma de 2005, mas é presentemente o único festival de Verão que não se deve perder. ZD esteve também na segunda noite dos Pearl Jam no Atlântico e uma vez mais Eddie Vedder e pares mostraram uma energia invulgar acompanhada por uma química única com o público português.
Na sétima arte, de novo pouco que se eleve da mediania que assaltou as nossas salas. Entre Inimigos de Scorsese marca um regresso a um território conhecido e revela um fôlego renovado. O Novo Mundo de Malick e Miami Vice de Mann foram filmes que também impressionaram, sobretudo visualmente, tal como a melancolia de Broken Flowers de Jarmusch e com Murray. Outro regresso em grande forma foi o de Woody Allen com Scarlett Johansson e Matchpoint.
No mundo dos livros ZD continua por páginas que não estão especificamente relacionadas com 2006, mas foram percorridas ao longo deste ano. As obras poéticas de dois nomes fundamentais do século XX - Jorge de Sena e Ruy Belo, O Som e a Fúria de Faulkner, Morte em Veneza de Mann, As Intermitências da Morte de Saramago foram as páginas que maior marca deixaram. Também os álbuns de banda desenhada de Lucky Luke assinados por Morris e Goscinny constituíram um agradável final de tarde.
Por fim, uma nota para os vinhos, depois do pinot noir, 2006 foi o ano da touriga nacional, do cabernet sauvignon e do chardonnay e dos belos vinhos daqui provenientes.
A colheita já vai longa e o ano ainda não acabou, ZD, convicto da traição da memória, regressa com os P.S..