Este mês de Janeiro arrasta-se, 2006 perde-se no horizonte e não há maneira de o entrudo chegar.
Sócrates propõe na Assembleia como tema de debate mensal as alterações climáticas. Os sucessivos relatórios do Tribunal de Contas são reveladores da incapacidade deste governo de atacar no que dói aos políticos (as mudanças nas cadeiras dos gestores públicos e as somas astronómicas de indemnizações são exemplo), mas o nostálgico Sócrates acha que já não neva como soía.
Portugal é um país que nos seus defeitos esconde virtudes.
E se somos castigados com a atroz incompetência daqueles que nos governam e se julgam a providência divina (resquícios de um sebastianismo que nasceu de uma decadência anciã), temos também a divina benesse de no nosso solo crescerem cepas que dão origem a vinhos que permitem acalmar esta angústia que nos consome.
ZD calcorreou no passado fim de semana terras do Dão (que nada têm de terras do demo, antes pelo contrário) e ouviu a afectuosa narração das aventuras de um casal de produtores de vinho desta região. As videiras, as cubas, as pipas, as garrafas foram etapas assinaladas e a prova começou num frutado e suave rosé e conheceu o ponto culminante numa elegante reserva de 2004.
A Quinta do Perdigão foi vínica epifania num sábado à tarde e o regresso não tardará. Afinal, nesta triste rotina lusitana, há que reencontrar o brilho do que nos inspira.
É verdade, o nosso Presidente da República visita uma das maiores economias mundiais onde grande parte da mão-de-obra recebe cerca de um dólar por dia de trabalho, a campanha do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez começa a ganhar expressão nos dois lados da questão, o atleta nigeriano Francis Obikwelu naturalizado português foi eleito o melhor atleta europeu do ano.
É verdade, ZD poderia credibilizar este suspeito blog e incutir-lhe alguma seriedade.
No entanto, ZD não consegue esquecer as imagens do fim de semana: o atribulado golo de David, o desespero de Baía, o prodígio Quaresma de joelhos após a grande penalidade falhada, Jesualdo Ferreira como um menino mal comportado a pedir desculpas aos ilustres adeptos do FCP.
Depois do furacão Carolina, o estádio do Dragão (qual Nova Orleães) assistiu ao tornado Atlético.
Mais do que uma promessa, a ameaça de regresso de ZD concretiza-se num aziago dia (mais relacionado com um mês de Janeiro cinzento, frio, sem feriados no horizonte, do que com a acidez no estômago resultante de um cocktail explosivo de vinho branco, tinto e espumante, tequila, licor e cerveja).
Ano novo, vozes velhas de ministros que asseguram que 2007 será mais um ano difícil, de reformas que terão sempre contraditores, de medidas cruéis e inevitáveis que permitirão manter o país num rumo de crescimento económico (alguém tem que garantir que os carros de luxo continuam a ter saída).
Ano novo, desesperanças velhas nestas vozes velhas incapazes de um discurso novo.