Ciclicamente surge em rotineiras discussões, nos cafés, na internet, o tema dos professores. A monotonia do tema não propicia um artigo com interesse garantido, todavia ZD não resiste a algumas notas de rodapé.
Porventura os professores não merecem tanta atenção, no entanto, erguidos como o monstro que devora o erário, sistematicamente estão na berlinda. As regalias infindáveis do estatuto da carreira docente suscitam invejas mais ou menos acentuadas e médicos, engenheiros, arquitectos, enfermeiros, advogados suspiram não terem escolhido em determinado momento a profissão de professor (perdoem a aliteração).
A maioria da sociedade portuguesa não é professor, portanto o peso desta inveja não é fardo leve (a palavra inveja poderá não ser a mais rigorosa, mas é a que ocorre).
O nosso actual governo, onde os professores não abundam (a Maria de Lurdes afirma ser professora com pouca convicção e ainda por cima encontra-se sob a alçada do Mariano Gago), teve a coragem de analisar as regalias infindáveis do estatuto da carreira docente. É necessário um travão, chega a altura de colocar os professores a trabalhar (professores, engenheiros, antropólogos, sociólogos, contabilistas, afinal nos quadros de escola não existem somente professores). O governo encontrou o mal, é necessário sangrar.
A sociedade aplaude, o mal (o professor) queixa-se.
Falta saber se se aproxima a cura ou se o corpo desfalece sem sangue.
De copo na mão e consideravelmente anelante, ZD abordou o Palácio da Bolsa na cidade invicta, no passado dia 17 de Fevereiro com o intuito de sondar a Essência do Vinho.
A tarde hesitava entre a chuva e o sol, mas, abrigado no palácio, ZD rompeu entre a multidão (não, não há aqui nenhum rasgo hiperbólico) e abeirou-se do expositor da Quinta do Perdigão, ponto de partida para o périplo enófilo, e confirmou o brilhantismo da reserva de 2004. Seguiu-se para Douro - Duas Quintas e um interessante branco. Após o muito bom T Quinta da Terrugem, novo regresso ao Douro com o excelente grande escolha da Quinta do Javali. De volta ao Alentejo, surgiu o interessantíssimo Cortes de Cima e um agradável espumante bruto da Herdade do Esporão. É claro que com uma mão ocupada com o copo ZD limitou-se a apontamentos mentais, falíveis e frágeis. No entanto, a nota final desta viagem é verdadeiramente inesquecível: a prova de dois vintage no expositor da Fonseca Porto.
Com um desenlace destes a saída do Palácio da Bolsa foi penosa, contudo ZD teve tempo ainda para mais dois apontamentos:
- as menções honrosas para os dois expositores (Quinta do Perdigão, Fonseca Porto) que melhor evidenciaram o entusiasmo de uma actividade que para alguns não passa de uma janela de negócio;
- a necessidade de repensar o espaço para este acontecimento, sobretudo a respectiva funcionalidade.
14 de Fevereiro e o som im ecoa furiosamente nos ouvidos de ZD: Varzim, Sim, São Valentim.
Bem, siga-se a ordem cronológica.
Póvoa do Varzim, sábado à noite, nem as vergastadas do vento marítimo acordaram o dormente Benfica. Embalado por um empate incerto, a equipa encarnada sujeitou-se à humilhação da derrota e desta vez os ferros da baliza do Varzim não puderam servir de desculpa.
No dia seguinte, Portugal absteve-se uma vez mais. Três referendos, três vitórias da abstenção. Do lado dos que conscientemente participaram ganhou o sim. Era inevitável, afinal não se repetiria o referendo relativo à interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher se não houvesse a convicção que o resultado seria diferente do referendo anterior.
No entanto, algumas questões impõem-se.
Houve alguma falta de pudor no modo como alguns reagiram à vitória do sim perante a gravidade da matéria referendada?
Será que a nossa esquerda política realmente acredita que o atraso estrutural da nossa sociedade pode ser parcialmente resolvido com a nova lei relativa ao aborto?
Encontra-se Portugal irremediavelmente dividido entre o Norte conservador e o Sul liberal?
Haverá vontade política de a médio prazo avaliar seriamente o impacto da nova legislação que resultar do referendo no comportamento das jovens da nossa sociedade?
Terão agora os defensores do não a legitimidade para daqui a sete anos esperar novo referendo e inverter o resultado deste?
O tempo correrá e trará as respostas ou mais questões. Para já temos o São Valentim e a corrida às rosas.
ZD prefere as túlipas e promete para a semana o relato da visita à Essência do Vinho este fim de semana no Porto.
Noite aparentemente fria e ouvem-se os hinos. Scolari movimenta os lábios no português e canta o brasileiro para dentro. Cristiano Ronaldo é o capitão da selecção portuguesa - há que iniciar um novo ciclo, a campanha de apuramento para o europeu não está a ser propriamente um passeio, e Ronaldo surge como bandeira do sucesso almejado.
O jogo começa, o Brasil surge mais perigoso, Portugal revela desorientação. Wenger boceja. A bola bate na trave da baliza de Ricardo. Mourinho e Wenger trocam impressões via telemóvel. Chega o intervalo.
Segunda parte, entra Paulo Ferreira para o lugar de Caneira, contudo na selecção portuguesa é aqui, na posição de lateral esquerdo, que reside a maior preocupação, ambos jogadores não passam de remendos discutíveis. Entra também o imperador Adriano saído duma churrascada em Milão com o agora vizinho Ronaldo (o brasileiro). O impasse só é resolvido com uma reposição de Helton. Fiel aos amigos portugueses, coloca a bola na cabeça de Miguel que passa para Quaresma que centra para Simão que remata para o fundo das redes (excelente jogada, com realce para a capacidade de colocação de bola do guarda-redes brasileiro). Antes do apito final, Ricardo Carvalho teve tempo ainda para aproveitar a soneca geral da equipa brasileira e repetir o atrevimento de Simão.
Dois zero, Scolari e a selecção portuguesa ganham balanço para o assalto de Março e aí é a sério.
Zero dois, Dunga, apesar da vistosa camisa, e a selecção brasileira, sem as vacas sagradas, acusam o frio londrino.
P.S. Recado para o mister Scolari - Já é tempo de reconhecer que contra selecções menores impõe-se jogar apenas com dois médios no centro do terreno (Petit e Deco, por exemplo) e colocar um segundo homem na área (Cristiano Ronaldo, por exemplo, deixando as alas para Simão e Quaresma).
O nosso primeiro-ministro levou os seus discípulos para um passeio pedagógico por terras chinesas.
Disse Sócrates aos seus discípulos:
- Olhem para este país, assistam ao milagre do comunismo, vejam o farol económico do século XXI!
Os discípulos boquiabertos retorquiram:
- Estas cidades são deslumbrantes, Nova Iorque ao pé delas parece uma aldeia!
Sócrates compreendeu então que os seus discípulos estavam preparados para partir em busca do sagrado Graal:
- Ide, meus fiéis amigos, e tragam investimentos para Portugal. Não se esqueçam de dizer que os portugueses não se importam de ganhar pouco e até são trabalhadores. Ide, meus amigos, já entregámos Macau, podemos agora oferecer a nossa mão-de-obra.