Este episódio do senhor Rui Cartaxo não é de facto novidade e os contornos não parecem demasiado escabrosos. O pobre senhor Rui Cartaxo renunciou ao cargo que ocupava por iniciativa dos novos accionistas da Galpenergia e apenas recebeu cerca de meio milhão de euros de indemnização (terá sido o accionista minoritário Estado a sugerir tão modesta compensação?). O Estado preocupado com o avolumar dos desempregados não tardou em encontrar uma ocupação para o senhor Cartaxo no conselho de administração da REN.
Tudo perfeitamente normal, segundo o ministério das finanças, estas danças de cadeiras tornaram-se rotina e aqui o engenheiro Sócrates não trouxe novidades.
Beterraba fala de alarido injustificado da comunicação social, sugerindo perseguição a este governo.
Pobre Sócrates, pobre Rui Cartaxo!
Cristiano Ronaldo não saiu de maca, Quaresma vestiu novamente a pele de Harry Potter e Nuno Gomes, contrariando a sua falta de vocação para o golo, tornou-se o quarto melhor marcador de sempre da selecção nacional.
Quatro golos vergaram a incompreensível, e por isso estúpida, arrogância de uma selecção belga que se tem arrastado em fases de qualificação, suspirando nostalgicamente por tempos passados mais animadores.
A selecção portuguesa, com pontuais dificuldades perante a ausência de jogadores fundamentais como Deco e Simão Sabrosa, sem um lateral esquerdo e um ponta de lança indiscutíveis, mostrou o carácter necessário e não claudicou diante da acessível Bélgica.
A primeira parte colocou algumas reservas. Não existiam dúvidas em relação à superioridade portuguesa, todavia alguma falta de lucidez no desenho final das jogadas ofensivas permitiu o intervalo sem golos.
A segunda parte revelou o melhor Portugal dos últimos tempos, pressionante, dinâmico, capaz de romper e eficaz na concretização. Destaques:
1. O triângulo do meio-campo foi fundamental (Petit e João Moutinho em boa forma, Tiago realizando provavelmente a melhor exibição com a camisola nacional). Costinha e Maniche são águas passadas.
2. Cristiano Ronaldo é o fulcro, é ele que determina a intensidade dos diferente momentos da partida, é dele que se fala antes dos jogos, é dele que se fala depois dos jogos.
3. Quaresma não tem o fulgor de Cristiano, nem o estatuto, mas tem a trivela. Este tipo de passe/remate, de acordo com a Wikipédia, é relativamente recente e apresenta um grau de dificuldade acentuado. Quaresma, o principal divulgador deste gesto técnico, esquece ocasionalmente os movimentos defensivos, é algo intermitente, contudo descobriu na trivela o seu número de magia.
4. O abominável Nuno Gomes falhou mais uns golos, errou alguns passes e aumentou a saudade do temível Pauleta. Ultrapassou acidentalmente Rui Costa na lista de melhores marcadores da selecção nacional, mas o sucessor de Pauleta está anunciado: Hugo Almeida (se não for possível a naturalização de Liedson ou Bueno).
Nuno Gomes não terá o instinto de matador (ou seja, a frieza letal dos maiores pontas de lança) e sempre evidenciou maior rendimento acompanhado na grande área, mas o futebol português, com a excepção do enorme Eusébio, nunca produziu pontas de lança de nível mundial. Se atentarmos nas últimas décadas, os jogadores excepcionais - Chalana, Futre, Figo, Cristiano Ronaldo - têm surgido nos flancos (aqui mais uma excepção para o génio de Rui Costa que se sente mais confortável no centro do terreno) e concretizar as oportunidades criadas tem sido um problema recorrente da nossa selecção.
O quarto melhor marcador de sempre da selecção portuguesa, o jogador ainda em actividade com mais golos marcados no campeonato português não necessita certamente que lhe descubram o mérito. Será suficiente olhar para o percurso de Nuno Gomes sem a miopia clubística.
ZD vai continuar a dizer mal deste governo (que efectivamente não é o seu) que, antes de mais, foi eleito democraticamente e tem toda a legitimidade para governar (com o conforto, também legítimo, de uma maioria absoluta na Assembleia da República).
Dizer mal soa a exercício gratuito, no entanto, ZD não recebe qualquer compensação pelo exercício e a sua parcialidade está isenta de encargos para o estado. Por outro lado, ZD não sabe se Beterraba acredita realmente que é necessário realçar o que corre bem a este governo, tal é a competência do seu gabinete de marketing no que a este aspecto diz respeito.
Sócrates é um sobrevivente do pantanal de Guterres e teve como principais obreiros no seu percurso para São Bento Durão, Sampaio e Santana. Não vejo grande mérito até aqui, a parte mais difícil foi calcorreada pelo desaparecido Ferro Rodrigues com o PS na oposição. Servido aos portugueses como salvador da pátria, tem travado uma batalha com algumas tréguas ao monstro da função pública (necessária evidentemente), aumentou os impostos (não precisou de muito tempo para esquecer os discursos da campanha eleitoral, ou seja, para confirmar este mal necessário na política que é a mentira), ergueu as bandeiras do aeroporto da Ota e do TGV e, quando surge uma décima, ainda que insignificante, que signifique melhoria do desempenho do país, não se faz rogado e colhe os louros.
Quem quiser ver em Sócrates O Desejado, faça favor. ZD é da opinião que Sócrates prossegue a linhagem de políticos medíocres que têm governado este país. Quem quiser falar do que corre bem e elogiar Sócrates, esteja à vontade. ZD continua com o seu profundo desencanto em relação ao exercício do poder por estas bandas e não vislumbra qualquer novidade. Quem quiser encontrar algo engraçado, vá ver a última comédia de Woody Allen ou então ouça as declarações de Mário Lino.
O que esperar de ZD? Miopia? Dor de cotovelo? Prosa cáustica e indigente? Talvez, afinal o escárnio e a maledicência estão gravados no ser português.
Uma nota final:
Agradado com as convulsões internas dos partidos do centro-direita, Sócrates segue imperial, com uma substancial parte da sociedade portuguesa rendida à sua indómita acção reformista.
As semanas sucedem-se. A comunicação social dá conta dos relatórios desfavoráveis (convenientemente esquecidos numa gaveta qualquer) à construção do novo aeroporto na Ota, Sócrates esconde-se. A comunicação social noticia que o défice fica abaixo das expectativas do governo, Sócrates surge e empalidece a realidade circundante com o seu sorriso e o discurso da confiança.
Sócrates, um primeiro-ministro arrojado, ou Sócrates, mais um primeiro-ministro que manifesta insuficiente preparação para governar um país onde todos se querem governar? ZD acredita que o facto de Sócrates abrir algumas janelas não garante o afastamento do cheiro a mofo em São Bento.
Sócrates cumpre um desígnio, ele, que já tem o seu nome gravado no processo de co-incineração e no Euro 2004, tem uma visão para Portugal que na essência passa pela construção de um novo aeroporto.
Como ZD já referiu anteriormente, a discussão que ocupou os últimos artigos está gasta e os argumentos invocados demasiado estafados (falar uma vez mais na incompreensível desorganização sindical dos professores não vai gerar a luz ao fundo do túnel). Num curto prazo de tempo poderemos analisar o impacto de algumas das medidas emblemáticas deste ministério e aí ZD acredita que todos os analistas da profissão docente ficarão convictos que a montanha pariu um rato.
Há vida neste blog para além dos professores? Resposta afirmativa.
Ontem ZD foi ver Scoop de Woody Allen e confirmar que Londres e Scarlett Johansson representam efectivamente um novo fôlego no trabalho deste autor. Sem atingir o brilhantismo de Matchpoint, Scoop recupera a comédia nervosa alleniana, surgindo Sondra (Johansson), a estudante de jornalismo, como sósia de personagens recorrentemente interpretadas por Allen, contudo cruzando o mais rígido universo social britânico. Esta proximidade de Scoop em relação ao universo reconhecível de Woody Allen dilui a capacidade de surpreender revelada pelo filme anterior, todavia a delirante sequência final é um resgate incondicional de um filme que evidencia Allen como verdadeiro autor cinematográfico, conseguindo em breves minutos o que muitos realizadores não conseguem numa carreira.
A amargura de ZD, caro Beterraba, é moderada, embora as manhãs de domingo não sejam propriamente doces, e a ironia de Mea culpa resulta de alguma experiência nos meandros da educação.
A questão central será a mediania de uma sociedade que se deleita com a degradação da imagem do professor, acreditando que o novo estatuto da carreira docente será uma lufada de ar fresco no sistema educativo. O mais importante na avaliação de qualquer profissão é saber distinguir o mérito do oportunismo, e isso não é garantido por este novo estatuto.
Mas avancemos, e aí, de acordo, o professor é apenas uma das questões do sistema educativo e a nossa ministra acordou agora para a questão do aluno e respectivo estatuto. Mais uma vez foi necessário o alarido da comunicação social para o governo se aperceber que há educação para além dos professores e o clima de muitas escolas é insustentável, surgindo amiúde os alunos não como fulcro do processo pedagógico mas como ameaça à integridade física de professores e auxiliares educativos. A ministra reagiu a reboque das últimas notícias e apontou a necessidade de remendar o estatuto do aluno. Ou seja, tal como na questão da TLEBS (é proveitoso conhecer o significado destas siglas manhosas), o ministério da educação está mais atento à comunicação social do que à realidade das escolas.
Sem pompa nem circunstância, Beterraba começa por afirmar "a culpa não é concerteza do governo", acrescenta - "só falam (os professores) nos ataques à “classe” e não em medidas para melhorar o sistema educativo", condena a "resistência à mudança" e a "febre reaccionária" e conclui: senhores professores, "tirem lá a cabeça debaixo da areia senão ainda cai para dentro".
ZD concorda que começar com uma certeza confere vigor ao discurso, portanto reconheça-se o rumo que este governo deu à educação e a firmeza no leme. Um exemplo será a questão insignificante da TLEBS, onde o governo assobiou para o ar enquanto a discussão limitou-se às escolas, hesitando posteriormente quando vozes, sobretudo na comunicação social, se levantaram contra esta trapalhada.
Quanto às medidas para melhorar o sistema educativo (designação nada pomposa), os professores poderiam ser mais interventivos, no entanto, a profícua actuação do ministério da educação, convicto que os professores são parte do problema e não da solução, não lhes deixa grande espaço de manobra. Beterraba acredita que os tempos de mudança e reestruturação não se compadecem com os caprichos dos professores e estes devem olhar em seu redor e ver que o mar está agitado em todos os lados.
No entanto, a teoria da avestruz faz sentido, ou seja, faz sentido o professor estar mais atento ao que o rodeia e observar os sinais de excelência que chegam de outras áreas da nossa sociedade, faz sentido o professor ter a consciência que não é o centro da engrenagem, faz sentido o professor ser mais exigente com os outros profissionais que o rodeiam, faz sentido o professor saber que a culpa do estado do país não deve morrer solteira e a culpa não é concerteza do governo.
Em jeito de comentário ao comentário de Robin na última semana, três notas: