Chove nos últimos dias de Maio.
O nosso primeiro-ministro corre na Praça Vermelha.
Uma greve nacional entorpece o país mas não o paralisa.
Os erros ortográficos já não são castigados com valentes reguadas.
Chove nos últimos dias de Maio e entra o cão da tristeza neste artigo.
P.S. O dono do cão é o senhor Joaquim Pessoa.
Manuel Pinho e Mário Lino são efectivamente a alma deste governo. Manuel Pinho mais sisudo, Mário Lino mais galhofeiro, ambos com um dom para animar a agenda política. Um dia Manuel Pinho, outro Mário Lino. Manuel Pinho fala e mostra ignorância, Mário Lino gosta de atroadas. Manuel Pinho desepera os trabalhadores da Delphi da Guarda, Mário Lino prega no deserto e na sua obsessão otesca esquece o peso de certas palavras. Sócrates assiste e deleita-se com o seu duo dinâmico.
P.S. Almeida Santos também defende a Ota, afinal qualquer terrorista pode explodir uma das pontes, dificultando o acesso à margem sul. ZD não tem dúvidas, perante este patamar de argumentação, avancem com a Ota.
A emoção deste final do campeonato nacional português passou ao lado de ZD, uma vez que, sem ter a menor capacidade de adivinhar o futuro, a classificação final não apresentou qualquer surpresa. Foi, no entanto, interessante assistir à última jornada do campeonato ao lado de um sportinguista e ver o esfregar das mãos no intervalo das diversas partidas.
Há dois momentos que ZD relembra neste percurso final do campeonato à parte dos três grandes: o Benfica da primeira parte contra o Porto na Luz - descrente na vitória - e a segunda parte do Sporting contra o Benfica na Luz - acomodado ao empate.
O Porto não foi a melhor equipa do campeonato nacional nem a mais regular, mas amealhou um pecúlio na primeira volta que geriu na segunda. O Sporting dos golos nos primeiros minutos, dos miúdos e do João Ferreira também não foi a melhor equipa, aguardou demasiado pelo seu melhor avançado e confirmou a Liedson-dependência. O Benfica obviamente também não foi a melhor equipa, esgotou nas diversas frentes o plantel depauperado e refém das hesitações do engenheiro Fernando Santos.
As quinas seguem para o equipamento do FCP, os rivais de Lisboa suspiram pelo próximo campeonato.
ZD prometeu e cumpriu, comprometendo o seu futuro político.
Após um início de Maio pontuado por um ritmo quase estonteante de novos posts, ZD afirmou que àquela inexplicável energia suceder-se-ia a habitual indolência.
No entanto, sem prémios de produção, sem contrato por objectivos, ZD sente na blogosfera uma saudável ausência de pressão que conduz ao caos que reage à rotina.
Neste regresso surgiu a vontade de encurtar os parágrafos e reagir à circunspecção da Direcção Regional de Educação do Norte (ZD, humilde funcionário desta Direcção, acreditava que o diploma do engenheiro Sócrates, e respectivas ramificações, não passasse de um irrelevante episódio, contudo há quem o leve a sério e atenção às piadas, a perseguição começou), reagir à sujeição dos interesses do governo aos interesses do Partido Socialista (António Costa, apesar de dispensável neste governo, será um óptimo candidato à Câmara Municipal de Lisboa), reagir ao desnorte de Manuel Pinho (abre a boca e sai disparate, mas o primeiro-ministro não acredita em remodelações, a não ser que haja mais alguma câmara para conquistar).
Ontem foi dia de votos na Madeira e em França e não houve espaço para surpresas.
A Madeira continua a ser um jardim, um couto privado do Alberto João, um palco para a sua insolência insular. No entanto, as regiões autónomas, e em particular a Madeira, merecem mais do que a indiferença do continente. O discurso de Jardim tem que ser analisado seriamente (as atoardas do Alberto continuam a ser ignoradas por quem tem responsabilidades) e a autonomia da Madeira e dos Açores não deve ser uma desculpa para tratamento excepcional.
Por terras gaulesas, surge Sarkozy como vencedor e a violência, provocada pelo receio do que esta vitória representa, não tardou. Sarkozy não há muito tempo disse alto e bom som o que muitos franceses limitavam ao pensamento e mais tarde ou mais cedo travará uma batalha com a sociedade de um país que ainda não digeriu a utopia de Maio de 68.
O dia 4 de Maio do ano de 2007 ficará na história deste blog: ZD, entusiasmado com o dealbar do fim de semana, publica três artigos no mesmo dia. No entanto, não receiem, a esta inexplicável energia sucederá a habitual indolência.
Este terceiro artigo aponta na direcção do Homem-Aranha 3 de Sam Raimi. ZD aguardava com expectativa esta estreia e nos tempos que correm a vontade de ir ao cinema numa cidade como Aveiro encontra-se cada vez mais diluída.
Homem-Aranha é, juntamente com os Batman de Tim Burton, para ZD a mais cativante transposição dos comics da Marvel e da DC para o grande ecrã. Os dois primeiros filmes exploravam inteligentemente a humanidade de um jovem inseguro confrontado com um poder que o transcende, a ambiguidade dos vilões e a beleza desarmante de Kirsten Dunst.
Homem-Aranha 3 inverte o percurso de Peter Parker, se nos dois primeiros filmes o movimento narrativo era de conquista, neste surge a perda como motor. Logo no início do filme, Peter Parker não falha a estreia do novo espectáculo da sua namorada, prepara-se para a pedir em casamento e o Homem-Aranha é o herói estimado por toda a cidade. A partir daqui começa a descida ao inferno.
Os 156 minutos do filme não pesam, Tobey Maguire e Kirsten Dunst continuam a impressionar (embora ZD prefira ver Kirsten Dunst em apuros do que a cantar), as sequências de acção permanecem cortantes (com destaque para o primeiro confronto com o Duende Verde), os planos de Nova Iorque, os efeitos visuais e sonoros são magníficos. No entanto, James Franco, Thomas Haden e Topher Grace não fazem esquecer Willem Dafoe e Alfred Molina. As três personagens com que o Homem-Aranha se confronta obrigam a multiplicar os fios narrativos e provocam uma dispersão que não existia nos dois primeiros filmes. Ganhou-se pompa e perdeu-se coesão.
Homem-Aranha 3 perde para os dois primeiros, mas ganhará certamente no embate com o próximo blockbuster - o tomo 3 de Piratas das Caraíbas
ZD ouviu na rádio e confirmou: Mário Lino é o melhor humorista deste governo.
Hoje, na sua intervenção integrada no Congresso do Oeste, enquanto tentava alinhavar mais um conjunto de argumentos para a localização do novo aeroporto na Ota (Já não há paciência!), terá reparado no tédio da plateia. Usando o seu talento de entertainer, não hesitou e zás:
O raciocínio é: o terreno é mais plano, pelo que há menor movimentação de terras. Penso que este raciocínio não é sério e digo-o invocando a minha qualidade de engenheiro civil, (pausa) inscrito na Ordem dos Engenheiros.
Uma saudação de ZD para Mário Lino por não se deixar contagiar pela letargia da nossa classe política.
Esta novela de medíocre qualidade que tem como cenário a Câmara Municipal de Lisboa trouxe de novo para a ribalta a podridão que mina as nossas autarquias. A promiscuidade entre o poder político e o poder económico, a falta de vergonha dos autarcas, a conivência dos partidos políticos não são novidade, todavia Lisboa tem uma projecção que outras câmaras não têm.
Durante esta crise da autarquia lisboeta foi evidente o desconforto de todos partidos na gestão das respectivas posições. Não é conveniente ir para guerra sem contar as espingardas e as eleições intercalares terão um grau de imprevisibilidade acentuado - não nos esqueçamos como os eleitores reagiram às candidaturas de Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Isaltino Morais.
Marques Mendes tardou, mas mostrou alguma coerência na posição assumida pelo PSD (apesar de algumas vozes que se ergueram em relação à necessidade de também promover eleições para a Assembleia Municipal e assegurar a governabilidade da cidade de Lisboa).
Carmona não quis abandonar o barco, ficou refém dos restantes vereadores que o atiraram borda fora e permitiu uma vez mais confirmar que para os nossos autarcas o exercício do poder não é um serviço, é um cofre que se conserva até ao último momento.
João Soares, que herdou a Câmara Municipal de Lisboa de Jorge Sampaio, sendo posteriormente derrotado por Santana Lopes, derrotado por Fernando Seara em Sintra, espreita mais uma oportunidade. Ele será certamente um político dos mais incapazes da nossa pobre praça, mas ostenta cartão de militante do PS e o apelido Soares.
Falava recentemente ZD na sensação de déjà vu e eis Liverpool - Milão na final da Liga dos Campeões. Actores secundários nas competições internas assumiram uma vez mais o protagonismo na competição de clubes mais importante do velho continente.
Mourinho e Ferguson assistiram impotentes ao afastamento dos respectivos clubes. Cedo em desvantagem, foram incapazes de alterar o rumo dos acontecimentos. Desesperando por um golpe de génio não se sabe bem de quem, apenas alteraram a equipa quando o jogo se precipitava para o fim, manifestaram uma descrença enorme em relação aos suplentes que os rodeavam, conformaram-se com a derrota.
Dentro de campo, em San Siro, Cristiano Ronaldo foi uma sombra, Kaká foi o farol.
Encostados ao oceano Atlântico, não há mal que não nos chegue.
Seguimos na cauda da Europa, acomodados a sucessivos governos que nos desgovernam e a presidentes que cooperam estrategicamente, receosos de um referendo que não nos legitime como actor secundário europeu, invejosos do sucesso castelhano.
Devoramos as páginas dos best-sellers de Carolina Salgado e Pinto da Costa, ouvimos pacatamente as afrontas do Jardim, do Valentim e da dona Fátima, aplaudimos o Malato, a Júlia Pinheiro e os apresentadores de A Bela e o Mestre, vibramos com a arrogância do Mourinho e com os arranques do Cristiano Ronaldo, queixamo-nos do árbitro e da falta de sorte.
Somos obesos, bebemos demasiado e o tabaco está caro.
As semanas arrastam-se, o fim de semana é curto e as férias não chegam.
Encostados ao oceano Atlântico, não há bem que nos chegue.
P.S. O título do artigo foi desviado das páginas de um romance de António Lobo Antunes.