1. A isenção de taxa moderadora para as mulheres que decidirem realizar a interrupção voluntária da gravidez é inaceitável (ponto final). O resultado do referendo não legitimou um tratamento de excepção nos hospitais ou nos centros de saúde para quem toma a decisão de abortar, nem a discriminação de todos aqueles que recorrem ao sistema de saúde por outros motivos.
2. A propósito do mofo e do ar fresco do artigo anterior, João J falou em Sagres e Super Bock. ZD sabe que chegou o Verão e a sede aperta, sabe também que as quinas estão no equipamento do FCP, sabe ainda que dourado é a cor do apito e da cerveja.
Quanto ao futuro das acções do Benfica, não me parece muito negro se se concretizar a OPA. Quanto às intenções do comendador, lá diz o povo: de boas intenções está o inferno cheio. De qualquer maneira, para o Roque Santa Cruz há lugar no Benfica ao lado do Cardozo.
No mês que corre era suposto que o nosso futebol tivesse entrado de férias e que as conversas de café não fossem além do mercado de transferências (que avança ao sabor da imaginação dos nossos três diários desportivos), porém os senhores Pinto da Costa e Joe Berardo decidiram agitar as águas (apesar da época balnear não correr de feição) e excepcionalmente num ano ímpar (sem europeu ou mundial) há futebol em Junho.
Pinto da Costa nas páginas do Público surgiu algo ressabiado com a perseguição pessoal à sua pessoa e ao FCP que o apito dourado significa. Num jornal credível procurou sustentar a sua credibilidade junto da opinião pública, resumindo tudo a uma tramóia que não beliscará o imaculado presidente do FCP.
Pinto da Costa, o baluarte do bairrismo nortenho, afinal não passa de um singelo homem que se apaixona, que gosta de fruta, que é traído, que não gosta de bichos de rapina.
Joe Berardo, por sua vez, com a graciosidade de um elefante, surgiu na vida dos benfiquistas. Conhecedor profundo do mercado bolsista e preocupado com o rumo do SLB, lançou uma OPA sobre as acções do clube cotadas na Bolsa e inverteu a vertiginosa desvalorização destas. Nas entrevistas que se seguiram Berardo confirmou que o silêncio deveria ser de ouro, pois o comendador não se revela tão feliz nas palavras que escolhe como nas jogadas no mundo financeiro.
Sem férias, SLB e FCP prosseguem o campeonato. No entanto, há uma vitória para o Benfica: se o Porto se resume ao mofo de Pinto da Costa e a sua corte, no Benfica de vez em quando há novidades e ar fresco.
Sunitas matam xiitas, xiitas chacinam sunitas. Hamas ataca Fatah, Fatah contra-ataca.
Israel e o Ocidente tornaram-se supérfluas justificações nesta escalada de violência, nesta sede de sangue.
Os tiros, os atentados, a luta pelo poder, o absurdo tomaram conta do médio-oriente.
O sangue continua a jorrar e o cheiro pútrido dos corpos amontoados é insuportável.
A DREN não é excepção, é sinal de um padrão de actuação política. E Margarida Moreira é apenas um rosto menor daquilo que há muito são as estruturas do seu (da ministra da Educação) ministério: o lugar dos boys e das girls que, na sua arrogância de vilões a quem puseram o pau na mão, têm levado a Educação do país ao estado em que ela está.
São palavras de José Manuel Fernandes no editorial do Público de hoje, palavras sobre um ministério e um governo que se arvoraram em salvadores da Educação, que proclamaram a urgência de avaliar o mérito dos professores e que continuam a ter nos centros de decisão uma lógica partidária onde o mérito não cabe - é director ou administrador quem tem cartão de militante deste ou daquele partido.
É verdade, José Manuel Fernandes não morre de amores por este Governo (tal como ZD), mas reconheça-se-lhe a lucidez.
Apesar de continuar arredado das salas de cinema, ZD foi recentemente ao videoclube e nas prateleiras encontrou títulos que restauraram a sua cinefagia.
Duas noites, dois filmes: Em Paris de Christophe Honoré e Cartas de Iwo Jima de Clint Eastwood.
A distância entre Paris e Iwo Jima é abissal. Christophe Honoré e Clint Eastwood também não serão cineastas próximos. No entanto, acidentalmente cruzaram-se nas duas últimas noites de ZD.
Cartas de Iwo Jima é mais um brilhante filme de Clint Eastwood (incapaz de um filme menor) e forma com As Bandeiras dos nossos Pais um díptico sobre a célebre batalha de Iwo Jima. Este filme humaniza os soldados japoneses, confere-lhes espessura, complexidade, e ganha contornos de meditação desencantada sobre a guerra e valores como a honra, a disciplina, o sacrifício. A ambiguidade dos protagonistas surge reflectida nos túneis, na escuridão, nas granadas, nos rostos de hesitação, determinação e sofrimento, nas cartas de Iwo Jima.
Em Paris (tradução insuficiente para Dans Paris) não é um filme de guerra convencional, o conflito aqui surge confinado às paredes de um pequeno apartamento na cidade de Paris. Dois irmãos partilham a cama com uma mulher e a estranheza instala-se com o irmão mais novo que reivindica a condição de narrador omnisciente desta história para regressar de seguida à condição de simples personagem. O sofrimento do irmão mais velho que se encontra entre os escombros de uma relação tem como contraste a luminosidade do irmão mais novo que fode para salvar o irmão mais velho. Um filme francês obviamente, mas tal como em Iwo Jima também aqui anda o espectro da morte.
E o engenheiro Sócrates cedeu: vamos lá ver se a Ota é de facto a melhor solução para a dar lugar à construção do novo aeroporto.
Não, o engenheiro Sócrates não cedeu, ter-se-á limitado a ouvir outras vozes para além da sua e dos seus delfins. Terá descido do pedestal, da sua torre de marfim. Construir um aeroporto não pode ser resultado de uma birra, o interesse do país deve permanecer acima dos interesses económicos, regionais, locais, políticos instalados em redor de uma opção discutível.
Não, o engenheiro Sócrates não cedeu, entre a arrogância e a falta de coerência, entre o autismo e a contradição, a escolha era óbvia.
Bem-haja, engenheiro.
ZD regressou alive mas ligeiramente ressacado do festival de Oeiras neste fim de semana.
Apesar da relativa ansiedade, o embarque no pendular em Aveiro decorreu com normalidade e após uma garrafa de rosé e três de tinto (com a surpresa da Quinta dos Aciprestes) surgiu a companhia do Tejo, havendo tempo ainda para quatro latas de cerveja e uma amostra de vinho tinto de Cantanhede.
O teor de álcool foi atenuado pelo percurso que restava da gare do Oriente até Algés. Depois da confirmação que os pastéis de Belém mantêm a sua fama, a chegada ao recinto do festival Alive. Tudo calmo, tudo sereno.
Os concertos da tarde não foram mais do que a banda sonora enquanto se aguardava os pratos principais. A brisa do Tejo e a imperial combatiam o calor que se fazia sentir. A acumulação de forças era necessária.
Mal a noite caiu, as luzes do palco escureceram e celebrou-se o rock'n'roll. A santíssima trindade reduzida a guitarra e bateria. De um lado Meg imperturbável, lembrando Julieta na varanda da mansão dos Capuleto, do outro Jack, o incansável e improvável Romeu. The White Stripes dispararam mas o sentido era único - rock'n'roll puro, duro, mais ou menos acelerado. O final do concerto foi fulgurante, o órgão the Doorbell e a guitarra de Seven Nation Army não deixaram espaço para possível resistência.
O cansaço começava a ganhar pontos, contudo o regresso de Billy Corgan era também acontecimento relevante. A cerimónia iniciou-se com Today, a multidão aglomerou-se e o sacerdote mostrou-se em forma, revisitando o passado que se tornou presente e marcando com a sua singular voz uma presença forte neste festival.
Diz a organização que para o ano há mais. ZD espera regressar a Oeiras, mas talvez duas garrafas de tinto sejam suficientes para lá chegar.
A internet é de facto aliciante e os computadores são no século XXI um utensílio incontornável.
ZD, um autodidacta relativamente conformado com a sua ignorância neste universo, esbraceja na internet e manuseia de forma rudimentar o computador, contudo acredita piamente que o analfabetismo futuro estará relacionado com o insuficiente domínio destas ferramentas.
Sócrates vai distribuir computadores e permitir de forma pouco dispendiosa o acesso à internet. Os cínicos e os conservadores logo o acusaram de demagogo e esbanjador, atacando um problema estrutural da nossa sociedade - a falta de competitividade - com uma medida vistosa mas superficial. Os computadores já existem nas escolas, os mais novos encaram as novas tecnologias sem constrangimentos e o domínio destas não irá resolver problemas mais profundos que minam a nossa competitividade.
ZD, cínico e conservador, subscreve.
No passado sábado, uma vitória da selecção portuguesa em Bruxelas colocou um ponto final na temporada 2006/2007 sénior. Segue-se o defeso, uma espécie de limbo onde os nossos diários desportivos levam ao extremo a especulação em torno do mercado de jogadores, criando a ilusão que algo se passa no reino do futebol português.
Cortando com um passado não muito distante, a nossa selecção possui neste momento um verdadeiro grupo, as ausências deixaram de ser um fantasma e, ao longo desta fase apuramento, a selecção não se ressentiu realmente quando teve de prescindir de jogadores como Deco, Cristiano Ronaldo ou Ricardo Carvalho.
Nani, insuflado com a transferência para o Manchester United, e Postiga, contrariando uma segunda volta da temporada a perder gás, selaram uma vitória tangencial mas incontestável.
E agora?
Nani e Anderson vão fazer companhia ao Cristiano Ronaldo, que vai para Miami mas regressa, ao contrário de Abel Xavier que tem apenas bilhete de ida para Los Angeles (Hollywood não o vai deixar escapar).
O Porto vai comprar mais jogadores, o Sporting vai formar mais jogadores e o Benfica vai vender jornais.
P.S. Um conselho para o engenheiro do losango: não será má ideia insistir no Miccoli, desistir do Derlei, Paulo Jorge, Manu e quejandos, e adquirir um verdadeiro ponta de lança.
Após o folclore de mais um Dia Mundial da Criança, ZD avista finalmente o início da época festivaleira (que acompanha de certo modo a época balnear).
O tiro de partida este ano não é dado pelo insosso Rock in Rio e não está prevista a actuação de Ivete Sangalo, de Britney Spears ou dos eternos Guns'N'Roses em nenhum dos festivais que se avizinham.
As portas do Alive Oeiras serão as primeiras a abrir com um alinhamento no mínimo ecléctico: os resistentes Pearl Jam e o regressado Billy Corgan de novo sob a capa dos Smashing Pumpkins (portanto vai andar pelas margens do Tejo o espírito do defunto grunge); os pioneiros do hip-hop Beastie Boys (que nos idos anos 80 do século XX já defendiam the right to party); e, no sábado à noite, a febre será inevitável perante a banda de rock'n'roll mais contagiante destes dias que correm - The White Stripes. Uma guitarra e uma bateria, Jack and Meg White, a reinvenção do rock'n'blues no século XXI, a descoberta de Icky Thump e provavelmente o concerto do ano cá para os nossos lados.