As férias: não existe plural mais agradável.
ZD parte de férias.
Portugal abstém-se, o novo opus de Tarantino não estreia nas salas de Aveiro e a vontade de partir de férias é reforçada substancialmente.
O destino é Amesterdão, cidade dos Países Baixos.
ZD, à boa maneira socrática, pretende fazer uma corridinha no Vondel Park, reencontrar Van Gogh, beber uma Heineken numa esplanada junto a um dos canais, fumar cannabis numa coffee shop e percorrer as vitrinas da rua vermelha.
Pretensões mundanas de um viajante ocasional.
Até mais.
Julho avança e Portugal superintende a União Europeia.
Sócrates sobe mais um degrau, agora é o homem providencial não só para o território lusitano, mas também para o continente europeu.
O seu percurso daria uma interessante ópera bufa.
Com preocupações superiores ao país que governa, amparado por sondagens simpáticas, protegido por fiéis lacaios que promoveu a ministros, aguardando a vitória de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa, Sócrates segue imperial.
As vaias, as manifestações são orquestradas por actores menores e contrariam a confiança que o povo em geral deposita na determinação, na coragem deste primeiro-ministro, afinal na era pós-socrática os portugueses vivem melhor. Os impostos continuam a subir, o desemprego continua a crescer, os gestores públicos continuam a enriquecer, a função pública encontra-se em águas estagnadas (tal como o novo aeroporto), ocasionalmente é melhor olhar por cima do ombro antes de dizer o que pensamos, mas os portugueses vivem melhor e, se António Costa ganhar no próximo domingo as eleições, também os lisboetas passarão a viver melhor.
Nesta ópera bufa a vulgaridade triunfa.
ZD não esconde que esta nova incursão por terras da capital (onde com mais Zés haveria menos Bragaparques) tinha um alvo definido: os nova-iorquinos Interpol, porém o último dia desta aliciante 13ª edição do festival Super Bock Super Rock não se esgotava na sombra destes rapazes.
A tarde estava agradável, quente ma non troppo. No recinto, recortado pelo Tejo e pela ponte Vasco da Gama, circulava-se com liberdade e as moças palmolive refrescavam as mãos dos pilatos que passavam. Enquanto o Anselmo atendia o telemóvel no palco, bebia-se uma imperial e aproveitava-se a sombra dos bares.
Chegaram os Micro Audio Waves e a escassa sombra do palco foi suficiente para o parco público interessado neste projecto nacional (com uma forte componente electrónica e com a guitarra do Flak sempre em forma).
Os X-Wife (um projecto que respira rock'n'roll mas algo monocórdico) aceleraram e prepararam o final da tarde.
Seguiu-se a espantosa Beth Ditto, uma voz poderosíssima respondendo ao ritmo pujante da bateria e aos acordes rasgados da guitarra. A energia impressionante dos Gossip e Beth abanou as ancas e ergueu os pés dos festivaleiros, a tarde transformou-se numa funky party.
Os TV on the Radio foram os senhores que se seguiram. Um som cru, guitarras distorcidas, ritmos tribais, um pop rock espacial, uma descoberta, uma viagem.
Com os Scissor Sisters veio de novo a festa. Ritmo esfuziante, lantejoulas, falsetes, disco sound, broadway, sexo, sir Elton John, guitarradas, cor, strip tease, fatos, mamas, Pink Floyd, fellatio e Jake Shears, o party(wo)man. À frente do palco o espaço para dançar tornou-se insuficiente.
Conquistados pela festa, os festivaleiros aproximaram-se do palco, mas a noite avançava e o céu escurecia. A chegada ao palco dos Interpol foi celebrada, chegavam pela primeira vez a Portugal. Arrancaram com a dormente guitarra de Pioneer to the Falls do novo álbum e instalou-se um negrume melancólico. A festa desvanecia perante a bateria marcial de Sam Fogarino, as notas sombrias do baixo de Carlos D, a guitarra angular de Daniel Kessler e a voz cortante de Tony Banks. Isolados em palco transitaram sobriamente entre Our Love To Admire, Turn On The Bright Lights e Antics e aproximaram a noite. Um concerto imperdível de uma banda incontornável.