O fim de semana reserva-nos dois embates promissores.
O primeiro tem nos cantos do ringue Marques Mendes e Luís Filipe Menezes - o título é a liderança do PSD e adivinha-se uma intensidade próxima de um célebre combate entre Evander Holyfield e Mike Tyson. Os últimos dias revelaram um profundo mal estar no interior do partido e parece evidente que nenhum dos candidatos apresenta condições para unir os militantes. Luís Filipe Menezes, com a sua conhecida graciosidade de hipopótamo, expôs a fractura e contribui para a felicidade de José Sócrates. Marques Mendes não conseguiu nos últimos anos tornar-se incontornável na oposição ao actual governo e o rótulo de líder de transição surge com alguma insistência. Sexta à noite ver-se-á quem cospe o bocado de orelha do adversário e quem fica encarregue de erguer os escombros de uma oposição excessivamente necessária.
Sábado, no início da noite, surgem os rivais da segunda circular. Lutam por um lugar no primeiro vagão, incapazes de seguir a locomotiva de Jesualdo Ferreira. Camacho e Paulo Bento decerto não se queimarão no final do jogo, mas um deles arrisca-se a ficar chamuscado.
Nestes dias de Setembro que correm, ZD descobriu uma nova vocação: colar códigos de barras.
É verdadeiramente sedutor o silêncio de uma biblioteca numa escola secundária, enquanto se descola códigos de barras autocolantes e alguém pergunta com enfado Será que Deus existe?, referindo-se à obra que se segue na pilha de livros por codificar.
Como diz o estimado Bernardo Soares, A vulgaridade é um lar.
No entanto, fora da biblioteca, por incrível que pareça, a vida continua.
O nosso primeiro-ministro socialista distribui computadores, promove o jogging na Casa Branca, persegue sindicalistas e ganha debates parlamentares. Fantástico.
O nosso seleccionador nacional empata nos jogos decisivos, agride o jogador sérvio Dragutinovic (Scolari nunca gostou muito de dragões e afins), inventa histórias e recorre do castigo lisonjeiro da UEFA. Picaresco.
José Mourinho traz os bolsos bem cheios de libras do Chelsea e há quem lamente a sua saída. Burlesco.
As nossas sete equipas nas competições da UEFA apresentam como saldo desta semana seis derrotas e um empate. Revelador.
Resta esperar pela vindima, à falta de quantidade surja a qualidade.
Dois recados finais:
Roque Santa Cruz - É boa essa preocupação com a falta de coerência do Benfica e com o improvável sucesso do Orelhas e do Gaspacho, mas parece que existem problemas mais prementes no futebol português como, por exemplo, o batatal de Alvalade.
Beterraba - Sugestão para outro inquérito n' O triunfo dos porcos:
Quem vai distribuir mais computadores este ano? A - Maria de Lurdes Rodrigues; B - José Sócrates; C - Valentim Loureiro; D - Robert Mugabe.
Após a curta vitória por 2-1 frente ao FC Copenhaga e o empate no Bessa com o Leixões, a época estava comprometida e o engenheiro via as portas de saída abertas. As palavras "Vamos ser campeões" não curaram a desconfiança que o povo benfiquista sempre revelou em relação a um certo conformismo de Fernando Santos.
ZD há um ano mostrava-se resignado e céptico em relação à época que se iniciava, convicto que o Santos não faria milagres. Um Simão Sabrosa vintage, um Katsouranis goleador, um Luisão autoritário, um Petit buliçoso e um Micolli irreverente conduziram o Benfica, após o desastre inicial, a uma recuperação interessante no campeonato e a uma meritória carreira nas competições europeias. No entanto, o final de época foi penoso e o saldo foi a eliminação nos quartos de final da Taça UEFA e o terceiro lugar no campeonato.
A margem de manobra de Fernando Santos era nula e as saídas de Simão e de Manuel Fernandes no início desta época, mais do que as frouxas exibições da equipa, foram o estertor do engenheiro.
Luís Filipe Vieira foi o cangalheiro de Fernando Santos e viu no seu parceiro de férias castelhanas a emenda para o erro de palmatória que foi a recondução do engenheiro nesta nova época.
Camacho herdou os escombros de uma equipa pensada por Fernando Santos (Simão e Manuel Fernandes seriam decerto pedras basilares desta), mas herdou também o renascido maestro Rui Costa que poderá ser o administrador de um consórcio ofensivo sul-americano (Cardozo e Di Maria prometem).
Mário-Henrique Leiria construiu uma obra discreta e seguramente não passará de uma nota marginal nos estudos da literatura portuguesa do século XX. No entanto, ZD há uns tempos atrás encontrou numa livraria os Contos do Gin-Tonic deste escritor, livro cuja primeira edição vem desse estimável ano que foi 1973 e que chegou em surdina à quinta edição. Colectânea de breves contos de um autor que não consegue escrever coisas compridas e que finalmente tem a oportunidade de usar o vocábulo imarcescível, Contos do Gin-Tonic encontra nesta bebida que percorre as mãos de sucessivas personagens as características dominantes dos contos: o frescor e a acidez. Na Pequena nota à segunda edição de fins de Julho de 1976 o autor sente-se como em 1973 - bastante chateado. A revolução não alterara o horizonte, todavia o autor afirma a vontade de nunca desistir. Deste cepticismo irreverente brota um conjunto de contos pontuados por uma originalidade de matizes surrealistas e por um humor amargo - Foi quando começou a descer a escada que notou que não tinha a perna (in A perna e os outros).
Do gin-tonic para um rio que chega dos Estados Unidos. O grupo Smog é uma criação de Bill Callahan, autor das margens do folk rock norte-americano. A River Ain't Too Much To Love foi o cd também encontrado recentemente por ZD e confirmou a magnanimidade de Bill Callahan. Em A River Ain't Too Much To Love a serenidade da guitarra é assaltada pela gravidade da voz e por versos de uma singeleza cortante. Um rio corre comprimido pelas margens e no seu lamento surge a certeza - Winter weather is not my soul / But the biding for spring...
Por fim, Tarantino. Opus cinco - À prova de morte. Os pés, o sadismo, a imperfeição do vinil, os corpos, a cinefagia, a perna, Tarantino inscreve de novo as marcas de um cinema que nos cola à cadeira na sala de cinema e reconstrói o cinema como arte de sedução, um cinema que será sempre à prova de morte.
D.C.: Trinta minutos após o embarque no metro em Plentzia surge Bilbao e impõe-se o museu Guggenheim. Pedra, titânio e vidro mesclam-se num extraordinário edifício, concebido pelo arquitecto Frank Gehry, que se ergue no coração da cidade e celebra a ousadia. Visita obrigatória.
Bilbao é uma cidade estranhamente calma no mês de Agosto. As ruas e praças amplas, as pontes, a brisa marítima dominam o percurso pedestre. No restaurante Zurrumurru comprova-se a simpatia do povo euskadi e prova-se a interessante gastronomia basca.
No regresso à praia de Gorliz, nova paragem obrigatória: Portugalete, uma cidade histórica situada na costa da Biscaia que tem como emblema a sua ponte transportadora (puente colgante).
Inicia-se o regresso, um dia de viagem, 800 quilómetros, 4 paragens: estação de serviço, Burgos, Valladolid e Tordesillas.
Burgos, como Léon, ostenta orgulhosamente a sua catedral. Impressionante construção, uma lição de história que nos leva do estilo românico ao rococó, uma demonstração do poder e da riqueza da igreja espanhola.
Do castelo de Burgos avista-se a cidade e a catedral no seu seio e surge de novo a vontade de mergulhar nesta cidade das entranhas de Espanha.
No centro de Castilla y Léon, Valladolid é a cidade que se segue. O centro histórico percorre-se num curto espaço de tempo e destacam-se a catedral (um terço, pois os outros dois terços não chegaram a ser construídos), a fascinante igreja de San Pablo e a Plaza Mayor.
Rumo a Portugal, ocasião para uma última paragem na localidade de Tordesillas e ocasião para evocar um tempo em que Portugal e Espanha repartiram o mundo e comprar umas garrafas de rioja e um lomo.
Perto de Salamanca, antecipa-se a chegada ao último reduto resistente ao império castelhano na Península Ibérica e sintoniza-se o rádio na Renascença. Corre o mês de Agosto e o velho Rui também ele resiste, marca dois golos ao FC Copenhaga e dá alento para os quilómetros finais na A 25.