Depois de dar a cara, regresso à prosa corriqueira.
Amanhã estreia Corrupção. Baseado no best-seller Eu, Carolina, produzido pela Utopia Filmes (que revelou as glândulas mamárias de Soraia Chaves no grande ecrã e gerou o último grande sucesso de bilheteira do cinema português), protagonizado por Margarida Vila-Nova (também jeitosa) e Nicolau Breyner (o melhor actor do cinema português actualmente), tendo originalmente como criadores o conceituado realizador João Botelho e a incisiva cronista Leonor Pinhão, com a promessa de escaldantes cenas de sexo, alvo de diversas pressões (o que não era previsível), abalado pela recente polémica que dividiu os intervenientes e levou João Botelho a recusar assinar a ficha técnica do filme, Corrupção tem ingredientes suficientes para se tornar acontecimento interessante no panorama do nosso audiovisual.
Alguns jornais tentaram aguçar o apetite dos espectadores e arriscaram falar de Corrupção como Sopranos à portuguesa, mas ZD não acredita que a inspiração para a personagem de Nicolau Breyner esteja à altura do grande, grande Tony Soprano.
Podem confirmar que ZD não resistiu a de novo convocar o poder da imagem (podem acrescentar o adjectivo folclórico à caracterização deste blog), mas podem também confirmar que Nicolau Breyner ter-se-á confrontado com o seu maior desafio enquanto actor. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, duas imagens - façam as contas. No filme Corrupção, porém, talvez afirmem que mais valiosas que as imagens foram as escutas.
Fiel ao seu sabre, paladino da força da palavra, ZD tem resistido ao poder da imagem neste antro.
No entanto, nos tempos que correm - nestes tempos em que a sombra parece acolhedora, o silêncio bom conselheiro, a mordaça apropriado utensílio, a persiana caída medida ajustada - ZD não se cala, ZD escreve e ZD dá a cara:
"Hi-yo, Silver, away!"
ZD desde o primeiro momento revelou uma certa empatia com Cardozo. As consoantes iniciais de ZD invertidas no nome deste espadaúdo ponta de lança paraguaio e a promessa de golos dispensaram o tradicional esperar para ver.
No entanto, Cardozo chegou cansado a um Benfica que necessitava de alguém que por momentos fizesse esquecer Simão Sabrosa. Rosto fechado, pé esquerdo desastrado, Cardozo escondeu-se na ausência de férias que o impediu de apresentar índices físicos ao nível da alta competição.
Ontem, após mais uma desastrada primeira parte frente ao Celtic, Cardozo soltou o avançado que ainda não se havia visto, desmantelando a defesa escocesa, permitindo a Boruc brilhar, testando a pintura da trave e do poste, movimentando-se inteligentemente entre os centrais das highlands, concluindo elegantemente o passe do génio de Di Maria, correndo para os adeptos e esboçando um sorriso.
Desfez-se o enguiço?
23 de Outubro, terça-feira, uma manhã de nevoeiro.
Chegada a Espinho, Ulisses, o facundo que ajudou a incendiar a Dardânia e que nos bastou, O mito é o nada que é tudo, D. Dinis que Na noite escreve um cantar de amigo e os tempos verbais compostos da língua oficializada pelo Lavrador.
Breve pausa para almoço, plano nacional de leitura (novo desígnio do ministério da educação), Harry Potter e os talismãs da morte (o último capítulo da mina de ouro de J. K. Rowling chega à língua portuguesa).
Nova pausa (desta vez para breve post no blog), e-learning, moodle, comportamentalismo, cognitivismo, construtivismo, espreitadela ao decurso do Roma-Sporting.
Regresso a Aveiro, noite escura e provavelmente fria.
Estranho final de Verão.
ZD confirmou ontem que a oposição ao actual governo encontra semanalmente o seu momento de maior fôlego ao domingo à noite no canal 1 da RTP (esse bastião da resistência às pressões), e não é pela voz do professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Os Gato Fedorento e o programa Diz que é uma espécie de magazine resistem nesta segunda temporada a um conformismo tipicamente lusitano e a esta nortada socialista com tiques de autoritarismo e criam um humor corrosivo que se alimenta da actualidade e do virtuosismo do camaleónico Ricardo Araújo Pereira.
O desequilíbrio na qualidade dos sketchs (inevitavelmente desigual) não impede que o Gato Fedorento preserve a refrescante acidez de um humor que assedia o poder político, persegue a mediocridade do nosso audiovisual e se inscreve numa tradição vetusta de escárnio e maldizer.
Luís Filipe Menezes no caminho que inicia não tem tempo a perder, porque para já no teatro da oposição os Gato Fedorento são os protagonistas.
No regresso ao liceu Sócrates foi vaiado.
No entanto, este primeiro-ministro não confunde as encenações dos sindicatos e do Partido Comunista Português com o verdadeiro pulsar da população em geral, sabe distinguir os professores dos sindicatos (o mal estar da classe docente não passa de mais uma fabricação sindical).
No regresso ao liceu Sócrates traz um computador na mochila e a internet no estojo. No recinto escolar não existem espaços verdes, as paredes da sala de aula não são pintadas há décadas, as persianas das janelas não funcionam, não se consegue ver o que o professor escreve no quadro, a biblioteca escolar encontra-se escondida num edifício sombrio.
No regresso ao liceu Sócrates deve ser vaiado.
As noites de quarta-feira são no menosprezado canal 2 (onde a qualidade da programação ultrapassa largamente a dos outros três canais emitidos em sinal aberto) noites de 24, noites em que o agente Jack Bauer dá conselhos (sempre úteis) sobre como lidar com ameaças terroristas.
Ontem houve dose dupla. O primeiro episódio curiosamente decorreu no estádio da Luz e teve a invulgar duração de noventa minutos. Os terroristas ucranianos tinham um estranho sotaque brasileiro, Jack Bauer trazia o número 10 nas costas e a CTU encarnada uma vez mais demonstrava-se incapaz de deter novo assalto terrorista.
Durante um episódio de 24 somos invadidos por uma angústia, adensada pela recorrente presença do relógio digital que salienta o escoar do tempo, crentes numa improvável reviravolta. Jack Bauer é o anti-herói, assassino profissional e pouco escrupuloso da unidade de contra-terrorismo, ocasionalmente sacudido por hesitações éticas, contornando espectacularmente obstáculos incontornáveis, sacrificando, se necessário, um companheiro em prol do sucesso da missão.
Durante o jogo Benfica - Shaktar a angústia esteve omnipresente e os golos encarnados ausentes. Rui Bauer Costa foi inteligentemente neutralizado pelo meio-campo ucraniano e Bill Camacho Buchanan impotente para alterar o rumo dos acontecimentos.
A ZD, após esta desmesurada (mas obsessiva) dose de angústia, resta esperar pela noite de quinta-feira, véspera da celebração do aniversário da implantação da Primeira República em Portugal (e ZD não é monárquico) que estende o fim de semana, e pela misericórdia de uma garrafa Periquita Reserva 2004.
P.S. A partir do dia 8 de Outubro as noites de segunda-feira são noites de Sopranos, noites do canal 2, noites para relembrar o esquecido apito dourado e acompanhar o Tony Soprano da Costa.