O frio chegou e as lareiras ganharam vida.
O Natal, estrangulado pelo consumismo, pelo crédito para isto e para aquilo, pelos sms, pelos centros comerciais, pelas playstations, pelas iluminações extravagantes, pelos acidentes nas estradas, resiste dificilmente.
ZD apenas faz votos que haja frio, uma lareira acesa, a família reunida e, na manhã seguinte, a vontade de sair para a rua, apesar do frio, e beber um porto com os amigos.
2007 foi um ano de regressos aguardados com alguma expectativa por ZD. ARCADE FIRE com Neon Bible, THE WHITE STRIPES com Icky Thump, INTERPOL com Our Love to Admire, NICK CAVE, disfarçado de Grinderman. Quatro álbuns que, se não revolucionaram universos próprios, acrescentaram sentido a esses universos. Quatro álbuns incontornáveis em 2007 (é verdade que ZD anda a abusar deste adjectivo), quatro provas de génio: Ocean of Noise, 300 MPH Torrential Outpour Blues, Pioneer to The Falls, Go Tell The Women (já agora permitam um conselho: visitem os websites destes regressos).
2007 foi igualmente um ano de descobertas. Em consonância com o parágrafo anterior, quatro álbuns: A River Ain't Too Much To Love de SMOG (projecto de BILL CALAHAN), Tanglewood Numbers de SILVER JEWS, The Greatest e The Covers Record de CAT POWER. Álbuns de 2005 (os dois primeiros), de 2006 e 2000, porém ZD, atrasado como sempre, apenas os descobriu em 2007. A boa música é como o bom vinho. Quatro álbuns, três vozes inconfundíveis, três melancolias distintas, três estilos poéticos.
2007 foi ainda um ano de concertos. ZD recorda quatro: TV ON THE RADIO e INTERPOL no Superbock Superrock, THE WHITE STRIPES no Festival Alive, JP SIMÕES no palco do Cineteatro de Estarreja. Os três primeiros concertos andam por aí perdidos nos gavetões deste blog, o quarto é mais recente e de certo modo é revelador de como o público português trata os autores musicais que não se vergam perante a trituradora indústria de entretenimento. Um cineteatro com quatro dezenas de espectadores assistiu a um concerto centrado no provavelmente melhor álbum de 2007 da música portuguesa - 1970. JP SIMÕES resistiu, dedilhou a guitarra, desfiou os versos das canções, fumou, cantou Chico Buarque e Quinteto Tati, pigarreou, ironizou. O público teve direito a encore.
Este ano ZD decidiu partir a colheita. Não tem a ver com a abundância de 2007, o problema é a idade (que não perdoa) e convém aligeirar a carga.
2007 foi ano de reconciliação de ZD com a televisão (constrastando com o inquinar da relação com a sala de cinema). O sofá testemunhou neste ano o religioso acompanhamento da última temporada de The Sopranos e a comoção de não se vislumbrar o regresso de Anthony Soprano, Sil, Paulie, Chris. Perder a inventividade e a secura de uma série que operou uma silenciosa revolução no panorama do audiovisual televisivo é trágico.
Na esteira de The Sopranos, ZD elegeu o canal 2 e o Fox (e os dvds do Vito Maia) e seguiu avidamente a terceira temporada da série Lost, a quarta e a quinta temporadas da série 24, a terceira e a quarta temporadas da série Niptuck. Da ilha paradisíaca de Lost à Miami estilizada de Niptuck, passando pela claustrofobia de 24, ZD assistiu a um fôlego invulgar da ficção televisiva norte-americana. Séries densas, complexas, capazes da reinvenção, avessas à repetição, séries que na aridez da televisão construíram um oásis.
Um parágrafo final, para saudar, no panorama nacional, o programa que também se tornou incontornável: Diz que é uma espécie de magazine. ZD já apontou aqui a urgência do humor dos Gato Fedorento, humor que não se contenta com a graçola e se alimenta de uma realidade (sobretudo política) comezinha.
P.S. ZD will be back (com A colheita de 2007 - II).
O título O paradoxo do Luís Filipe (isento de originalidade) teve como antecessor provisório Angústia para o jantar (também isento de originalidade - esta pretensão ZD não possui). Não será complexo adivinhar o âmbito desta breve digressão.
Este ano o Natal chega mais cedo para benfiquistas e sportinguistas e a competição resume-se à luta pelo segundo lugar.
ZD, após a interessante exibição do Benfica perante o AC Milan, ainda teve a ingenuidade de acreditar que os encarnados poderiam moderar a euforia azul e branca no plano nacional (tal como os red devils o fizeram no plano internacional). Vã quimera. No passado sábado, a luz esfumou-se, Porto a mais, Benfica a menos.
Faz sentido, o Benfica continua a hesitar entre o passado, o presente e o futuro, ou seja, Luís Filipe (onde o adepto benfiquista entrevê o seu clube no período que se iniciou com a chegada catastrófica de Artur Jorge e os nelos, os tavares, os pringles e todos jogadores que abriram o sonho de qualquer jogador, independentemente da categoria, poder vir a jogar no SLB), Petit (que traduz a feliz inflexão que se operou na política de aquisições do Benfica recentemente) e Adu (a aposta na irreverência da juventude e no médio prazo).