Condenado à luta pelo segundo lugar (o fim de semana que passou não alterou os dados da principal competição do futebol português), o Benfica teve ontem o seu clímax no mercado de transferências de Janeiro: Makukula.
Avançado de 26 anos, compleição física assinalável, boa movimentação na frente de ataque, engodo pela baliza, alegria africana, passaporte português (reparem no domínio revelado por ZD neste parágrafo do futebolês, esse manancial de expressões que as sumidades da análise futebolística ostentam).
Makukula será um reforço, mas, tal como Moretto ou Derlei em anos anteriores, não será a panaceia (ZD em grande forma) para as enfermidades de que padece o Benfica de Camacho. Dificilmente acontecerá o convívio na frente de ataque de Cardozo e Makukula e será demasiado cedo para condenar definitivamente Nuno Gomes ao banco (de Mantorras nem vale a pena falar).
Camacho continuará a falar da bola que entra ou não entra. Os adeptos benfiquistas continuarão a sentir uma angústia crescente perante as variações de humor da equipa, convictos que o verdadeiro reforço de Inverno apenas poderia ser o saudoso Simão Sabrosa, a pedra angular do Benfica nos últimos anos, que não pode ser substituída.
Correia de Campos e Isabel Pires de Lima foram vítimas dessa madrasta dos governantes: a remodelação. Um por excesso de contas, outra por excesso de maquilhagem. Ambos por excesso de incompetência.
A remodelação poupou Mário Lino, Manuel de Pinho e Maria de Lurdes Rodrigues (ZD não tem dúvidas que, se os professores tivessem um vestígio do poder de influência dos médicos, esta senhora não escaparia à vergasta). A verborreia, a ingenuidade e a arrogância destes ministros não foram vergastadas, o excesso de incompetência aqui permaneceu impune.
José Sócrates, o mentor da remodelação, retirou o pó à máquina de calcular e, vislumbrando o ciclo legislativo, tratou de expurgar o governo e dar indícios de uma suave mudança no rumo da governação.
O arquitectado coro de assobios que teima em perseguir o primeiro-ministro tenderá certamente a diminuir após a remodelação. Manuel Alegre participará em menos comícios. O desgaste dos dois ministros não se alastrará ao bonacheirão José Sócrates, que tem andado na estrada, dando destaque aos óbvios sinais de sucesso e esperança neste país transformado e rendido à capacidade reformadora do governo.
A greve dos argumentistas prossegue por terras norte-americanas, já se conhecem os candidatos aos Óscares e ZD, enquanto aguarda ansiosamente a estreia nas salas portuguesas de No country for old men dos irmãos Coen e There will be blood de P. T. Anderson (inspirados títulos para incursões no universo do western de realizadores que ZD aprecia), aproveitou o serão de ontem para ver a segunda parte do projecto Grindhouse: Planeta Terror.
O filme realizado por Robert Rodriguez reforça a ideia que esta sessão dupla idealizada por Rodriguez e Tarantino (nostálgicos de um cinema e de uma relação com o cinema evocados por este projecto) foi infelizmente amputada pelos resultados da bilheteira e, uma vez mais, o negócio sobrepôs-se ao cinema.
O filme inicia-se com um trailer do filme Machete e expõe desde o primeiro segundo o imaginário que habita os dois filmes de Grindhouse. A cinefagia, a homenagem, a apropriação de um universo cinematográfico (onde a violência surge de forma quase caricatural, com as costuras à mostra) não se encontram ocultadas. Rodriguez desenha mais uma variante do confronto entre zombies e humanos com uma acidez corrosiva. O pus atirado ao ecrã, os jorros de sangue, os corpos esquartejados, as entranhas expostas sucumbem ao irmão moribundo que revela a receita do molho, à bobina desaparecida e à perna, à perna mutante, à irresistível perna dançarina, à perna amputada, à perna de pau, à perna desequilibrada, à perna que corre, à perna letal.
O pingo do nariz de ZD melhorou, porém, a dor de pensar agudizou-se com a lembrança e a leitura do Decreto Regulamentar n.º 2/2008 (obrigado, monovitelina mineira).
É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma. ZD acredita que a ansiada revolução na avaliação dos professores não passa afinal da mudança de página de um romance (nem sequer se deve falar de uma mudança de capítulo).
A reunião entre avaliado e avaliadores e as fichas de auto-avaliação e avaliação, entre outras descobertas, não garantem a fiabilidade de um processo significativamente subjectivo e não asseguram a linha divisória definitiva entre os professores excelentes e os insuficientes.
O novo sistema de avaliação de professores (que não se encontra assim tão distante do anterior sistema) dependerá essencialmente do rigor profissional e da ética dos órgãos de direcção executiva das escolas ou agrupamentos. A tentação de, através da avaliação dos professores, eliminar vozes incómodas nas escolas por parte das direcções executivas não será decerto improvável.
Às voltas com Fernando Pessoas (nome sugerido pelo professor Roger de Língua e Cultura Inglesa na Universidade de Aveiro, brevemente Fundação), ZD, com o pingo no nariz, depara-se com a dor de pensar (A ciência / Pesa tanto e a vida é tão breve!), mas numa versão significativamente mais caseira:
O primeiro-ministro decretou o fim da crise e o povo português respirou de alívio. Ou talvez não.
Sócrates acredita que 2008 será melhor do que 2007 e o povo português canta Para melhor está bem, está bem / Para pior já basta assim. Ou talvez não.
É conveniente o fim da crise, convém que 2008 seja melhor, o ciclo legislativo assim o impõe. Já chega de convicções e de austeridade, que não rendem votos. Chegou o momento do governo pensar nas próximas legislativas.
No país em que serviços de urgências médicas fecham sem a garantia de efectivas alternativas, no país em que o senhor Armando Vara aguarda a respectiva eleição para a vice-presidência do maior banco privado na direcção do maior banco público, no país em que as Estradas de Portugal tem 800 veículos para 1800 funcionários, 2008 será certamente o ano do fim da crise para mais alguns.
P.S. Uma saudação calorosa à monovitelina mineira.
Eis 2008 e ZD ainda às voltas com 2007. Típico. A vossa estimada compreensão para mais um contratempo e a garantia que a colheita cinéfila de 2007 não ocupará muitas linhas.
A oferta das salas de cinema de Aveiro não é terreno favorável ao cinema das margens, privilegiando os filmes que se dirigem ao grande público, ou seja, os filmes que auguram resultados comerciais proveitosos, ou seja, os filmes que resultam da estafada indústria cinematográfica norte-americana.
ZD ainda não teve oportunidade de ver Paranoid Park de Gus Van Sant, Promessas Perigosas de David Cronenberg e Call Girl com Soraia Chaves, filmes que ZD aguarda com alguma expectativa (tendo em conta os percursos de Van Sant e Cronenberg e as glândulas mamárias da Soraia), portanto a colheita resume-se a quatro obras: