A selecção nacional, ou, com maior rigor, os jogadores portugueses, ou, com maior rigor, os jogadores com nacionalidade portuguesa convocados pelo seleccionador, ou, com maior rigor, pelo mister Scolari concentraram-se ontem em Viseu para a realização de um estágio que marca o início da preparação para a fase final do Europeu de 2008, a realizar na Suíça e na Áustria. O arcaico conceito de selecção nacional de futebol não encontra espaço neste negócio enorme em que se tornou este tipo de acontecimentos e na obsessão pelos títulos.
Scolari decidiu e o ónus da decisão deve recair sobre os ombros dos responsáveis pela sua contratação. A selecção será a equipa de Scolari e as opções serão sempre questionáveis, porém Scolari só fala dos que estão em Viseu, enquanto a nação (a parte interessada em futebol) fala dos que lá não estão e Maniche fala daqueles que influenciaram o esquecimento do seu nome.
O Manichegate (não se fale do Caneira ou do Tiago) não é mais que uma reposição do caso Quaresma no mundial 2006 e a ZD parece mais relevante saber até que ponto esta equipa pode sair da tristeza exibicional dos últimos jogos amigáveis e da fase de qualificação para o europeu.
O Portugal com um guarda-redes irregular, uma defesa permeável, um meio-campo sem fôlego e um ataque individualista não chegará decerto a terras austríacas. No entanto, existe matéria prima para construir uma equipa promissora: dois bons laterais (Miguel e Bosingwa), dois centrais excelentes (Ricardo Carvalho e Pepe), um médio experiente de qualidade indiscutível (Deco), bons avançados (Simão e Quaresma), o futebolista que em 2008 mais brilha a nível mundial (Cristiano Ronaldo) e um conjunto interessante de quinze jogadores (dois terços) onde Scolari mesclou a juventude com alguma experiência. Não deixam, todavia, de ser evidentes (inevitáveis) desequilíbrios, por exemplo, no lado esquerdo da defesa, no meio-campo e na grande-área ofensiva.
Resta aguardar pelo mês de Junho, com os pés bem assentes na Suíça, para que a Áustria não se confirme uma miragem.
ZD não consegue disfarçar o registo monocórdico que pauta este antro blogueiro: Sócrates para aqui, futebolices para acolá, com filmes, concertos, álbuns, divagações meteorológicas, citações ocasionais a surgirem intermitentemente.
Não, não se trata de mais um balanço desencantado desta faina, nem de uma nova censura à insistente redundância de ZD. Nestes dois parágrafos apenas se trata de comprovar a superfluidade desta prosa.
Entre Aveiro e Espinho, surgiram nos últimos tempos o fulgurante uivo de Bob Dylan em Blood on the Tracks e a magnificência cortante da canção If You See Her, Say Hello, descoberta na aspereza sexualmente explícita (com caução literária) da série Californication, que no estimado canal 2 da RTP se segue ao humor suburbano e alucinado, com um forte travo melancólico, da série Weeds. Surgiu também a quarta temporada de Lost (e a desorientação não diminuiu com as prolepses). Surgiu o berbequim sádico do tarantiniano (versão gore) Hostel de Eli Roth.
Surgiu ainda um Portugal irremediavelmente desalentado, perdido na encruzilhada de uma economia que não acelera (depauperada pela ausência de investimento), de uma escalada vertiginosa do preço do gasóleo e da gasolina, de um primeiro-ministro que deixou de fumar.
O engenheiro Sócrates acrescentou ontem mais um capítulo ao seu rocambolesco percurso como primeiro-ministro.
Depois de uma animada viagem até chez son ami Hugo Chavez, com umas cigarradas pelo meio, Sócrates não hesitou em humilde e publicamente fazer o mea culpa, atendendo à cruzada erguida por este governo ao fumo em espaços fechados (no avião fretado com dinheiros públicos seguia certamente uma tripulação, a não ser que o polivalente Manuel Pinho seja piloto, com direito a um ambiente isento de fumo).
Sócrates não só pediu desculpa ao povo português pelos cigarros fumados, como também prometeu abandonar este vício terrível.
Não há dúvidas, as legislativas de 2009 já dominam o horizonte socrático.
Perfaz amanhã uma semana a divulgação das deliberações desse rato parido pelo futebol português: o Apito Final.
O Futebol Clube do Porto acolheu pacatamente a perda de seis pontos - pecúlio dispensável nesta época de superioridade inatacável que teve como saldo final vinte pontos de distância para o segundo classificado (ZD não tem dúvida que esta deliberação seria impensável na época anterior, dada a minúscula vantagem do FCP sobre os segundo e terceiro classificados e respectivas consequências). Em relação ao castigo aplicado a Pinto da Costa, porém, vai haver recurso.
Esta anormalidade parece aos olhos sapientes do presidente do FCP normal. Será que os sócios do FCP acolhem tranquilamente a mancha da corrupção nesta instituição? Será que os adeptos consideram a vinculação da tentativa de falsificação da verdade desportiva ao seu clube algo sem gravidade?
Nos tempos que correm a probidade parece palavra morta para os lados do Dragão. Nos tempos que correm um presidente de uma instituição corrupta ainda encontra quem o leve a sério.