Terça-feira, 18 de Novembro de 2008
Da necessidade do Educational Times à ovelha negra
Os comentários beterrabianos são sempre um bom pretexto para um novo artigo sem nada de novo.
É verdade, a opinião pública em geral não tem um conhecimento rigoroso do que se passa no interior das escolas (o mesmo acontece em relação aos hospitais, tribunais, gabinetes ministeriais, sedes de instituições, BPN, etc.) e neste alarido actual não surpreende a rasura de argumentos convincentes de ambas partes neste braço de ferro. No entanto, quando o ministério recomenda que o modelo proposto de avaliação dos professores não seja levado à letra pelas escolas, parece reconhecer o excessivo peso burocrático do mesmo. Por outro lado, os professores (ou parte dos professores) sabem que a avaliação é um assunto sério e há locais próprios para a sua discussão e para esgrimir os devidos argumentos. Quanto à opinião pública em geral, com esta lidará a eficiente equipa de marketing do nosso governo (os assessores do engenheiro e os seus Magalhães).
Parece que o Financial Times na avaliação do desempenho dos ministros europeus das finanças colocou o nosso Teixeira dos Santos no último lugar do ranking. É pena não existir o Educational Times.
Relativamente aos senadores da nação, Beterraba lembrou-se do falecido Álvaro de Cunhal (nesta seccção, ZD acrescentaria Francisco Sá-Carneiro e Lucas Pires), o retirado Adriano Moreira, para além do desalinhado Manuel Alegre. Este deputado foi eleito pelo Partido Socialista (e não pelo governo), tem assento na Assembleia da República e possui certamente a liberdade de não subscrever todas as medidas desenvolvidas pelos diferentes ministérios. Neste rebanho socialista, viva a ovelha negra.
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008
Triste Maria de Lurdes versus Manuel Alegre
- Entre a inexistência de uma política educativa, a inflexibilidade típica do autocratismo socrático, um modelo de avaliação insustentável, os ovos, o desespero revelado na sugestão de instrumentalização dos alunos por parte dos professores, a disponibilidade para alterar o modelo de avaliação, resta uma jangada à deriva onde se encontra Maria de Lurdes, os subservientes secretários e o primeiro-ministro (em jeito de Wally). Está desculpada, senhora ministra, demita-se.
- Manuel Alegre, neste deserto político português, é um assomo de lucidez e independência, uma voz que ainda não foi formatada pela embriaguez do poder no partido socialista, um corpo ainda não contaminado pelo panglossiano vírus socrático:
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
«Trova do Vento que Passa»
Terça-feira, 4 de Novembro de 2008
Da condensação a Entre les murs
Evaporado há algum tempo, este frio de Novembro permitiu a condensação de ZD e o regresso à faina bloguiana (por breves instantes).
- Primeiro de Novembro, dia de todos os santos. Romaria da Lusitânia profunda aos cemitérios. Aqui relembra-se o sentido de justiça da morte - À morte niguém escapa, nem o rei nem o papa. No entanto, nem todos mortos descem à terra, alguns resistem nos jazigos construídos sobre o solo, contrariando o espírito democrático da ceifeira.
- Do incenso nos cemitérios ao incensado Magalhães, por que é que Sócrates não poupa ao ridículo os assessores, os professores transfigurados em agentes de marketing e os portugueses em geral?
- O BPN vai ser nacionalizado. O Banco de Portugal, entretido com previsões lisonjeiras para a economia portuguesa, não se apercebeu da degradação desta instituição e o governo, responsavelmente, não vê alternativa à nacionalização. O contribuinte pagará a factura de um estado demasiado previdente em relação à crise do sector bancário e alheio às pequenas e médias empresas que vão fechando as portas semana após semana.
- Hoje é dia de eleições nos Estados Unidos da América. George W. Bush KO (bendita limitação de mandatos). Obama na pole-position.
- Aimar e Suazo desenharam um momento de magia no passado domingo, Reyes (que também já foi mágico) abriu a janela da angústia. Este Benfica de Quique não é só flores, mas o perfume de olhar para trás e ver os eternos rivais é irresistível.
- Entre les murs de Laurent Cantet (a tradução portuguesa - A turma - é uma vez mais flagrantemente redutora) - obra incontornável (e realce-se o valor cinematográfico em detrimento do mérito sociológico). Os dois planos finais (o entusiasmo na partida de futebol entre alunos e professores no recreio e a sala de aula vazia) são reflexo de dois impulsos que marcam este olhar complexo e elevado sobre a ESCOLA: o idealismo e a vertigem do vácuo.