No limite de 2008, antes que o apocalíptico 2009 faça estiolar a colheita, vamos à terceira rodada.
No cinema, após o frenesim dos óscares, impuseram-se a ZD dois filmes: No country for old men, dos irmãos Cohen, e In the valley of Elah, de Paul Haggis. Obras desoladas e cortantes que respiram a encruzilhada dos E.U.A. e com a crepuscular presença de Tommy Lee Jones. Também na esteira dos óscares, surge a crueza de Daniel Day-Lewis em There will be blood, de P. T. Anderson. Gestos grandiosos de respeito foram I' m not there, de Todd Haynes, e Shine a light, de Martin Scorsese, gestos que envolveram cinematograficamente dois ícones da música popular do século XX: Bob Dylan e The Rolling Stones. Por fim, para que ZD não seja acusado de subserviência ao cinema norte-americano, realce merecido para Entre les murs, de Laurent Cantet, olhar lancinante sobre o universo escolar.
A felina Chan Marshall vertendo o reddinguiano
I've been loving you too long no seio da plateia do Coliseu do Porto foi o memento musical de 2008, num concerto ancorado no magnífico Jukebox e na insinuante voz de Cat Power.Trabalhando como um empregado de escritório, mas recusando a repetição anódina, Nick Cave também regressou em 2008. Eléctrico e visceral, Dig!!! Lazarus dig!!! é mais um tomo de um cavador que insiste numa vinha que consistentemente dá os seus frutos.
Ou seja, 2008 foi, como 2007, essencialmente, um ano de regressos e no centro deste outrora agora os Portishead com Third (onde surge o magnífico tema The Rip - que respira a cumplicidade de Beth Gibbons com Rustin' Man em Out of Season), os Silver Jews de David Berman com Lookout Mountain, Loookout Sea (magnífico álbum, magnífica capa, magníficos versos) e Aimee Mann com @#%&*! Smilers (sorriso decantado).
Não longe da praia da Zambujeira, foi também possível presenciar o atribulado regresso a palcos lusos dos Franz Ferdinand. À terceira foi de vez, e o fogo posto ficou fora de controlo.
Por fim, tempo ainda para uma descoberta (nem só de regressos é feita a colheita) - Vampire Weekend e a irreverência transformada em música que agita inusitadamente o pé: irresistível (Who gives a fuck about an oxford comma?).
Com chuva, frio, vento, estradas cortadas, ZD abrigou-se. Da instabilidade do clima à instabilidade da economia global, 2008 é agitado por este monstro cuja cauda ainda não se vislumbra: a recessão. Convicto que a tristeza não paga dívidas, ZD inicia a colheita deste ano pelo risível: