Era ZD um jovem imberbe, apreciador de vinil e de melodias poproqueiras escorreitas, quando, se a memória não o trai, no pavilhão do recinto das feiras, em Aveiro, apanhou um vício que ainda o acompanha: a música ao vivo.
Os anos passaram (décadas passaram?) sobre este primeiro concerto que constituiu um resgate definitivo dos bailes de paróquia. Não era suposto dançar com uma rapariga, dois para a esquerda, dois para a direita. Os olhos concentrados no palco e o corpo agitado, contagiado pela energia que era libertada. João Aguardela, guitarra em riste, e Sandra Baptista, no vaivém do acordeão, eram a ponte dos Sitiados para o jovem público assaltado por uma celebração musical que respirava a tradição folk e convocava o suor. Vida de marinheiro e A cabana do Pai Tomás tornaram-se efemeramente hits improváveis e reconciliaram, por breves momentos, ZD com a música popular portuguesa.
Após o passageiro sucesso, a sombra das margens acolheu João Aguardela e a sua labuta no território da tradição musical. Não há muito tempo ZD reencontrou-o no auditório da Reitoria da Universidade de Aveiro. Integrado no projecto A Naifa, continuação de um percurso de exploração da música tradicional (aqui particularmente o fado convocado pela guitarra portuguesa de Luís Varatojo), João Aguardela surgiu mais discreto, menos explosivo, mas manteve-se a celebração.
A notícia da morte de João Aguardela na passada segunda-feira pareceu exagerada, grosseiramente exagerada: Esta vida de marinheiro / Puta que a pariu.
Janeiro já vai avançado (Deo gratias!) e ZD aproveita a tarde cinzenta para limpar o pó ao blog.