Outrora solenizada por Durão Barroso (que entretanto partiu para Bruxelas à procura de uma cueca de maior dimensão), a tanga transformou-se no fulcro do discurso dos políticos lusos, ou seja, a oratória na nossa res publica não vai além da arte da tanga.
Na campanha para as europeias, os estafados discursos do PSD, CDS, PCP e BE não suscitam mais do que um longo bocejo e, curiosamente, é no partido do poder que se encontra a novidade. Após desencantar Vital Moreira (um Gepeto para consumo europeu e um avô Cantigas para consumo interno), não se sabe bem de onde, o PS tem levantado interessantes temas nesta campanha: o iberismo (de algum modo folclórico, de algum modo desesperado) no refrescante arranque de campanha com o par Sócrates e Zapatero (os Dupond e Dupont ibéricos); a reciclagem (Correia de Campos, costela reformadora mais incisiva deste governo, também corre para a Europa); a clonagem (Elisa Ferreira fará a prelecção sobre este tema).
Viva a Europa, viva a tanga.
Revisitando a magnífica colecção de poemas traduzidos por David Mourão-Ferreira em Vozes da Poesia Europeia, ZD deparou-se com um mordaz epigrama de Marcial:
Se depilas o peito, as pernas mais os braços,
se teu pénis também em torno é depilado,
é porque à tua amante assim melhor agradas...
Mas em quem pensas tu ao depilar o rabo?
Parece, orangotango (tango para os amigos), que a arte depilatória já era celebrada pelos poetas latinos.
ZD acreditava que a ausência de Daniel Alves retiraria alguma acutilância ao relógio catalão, porém o golo de madrugador do profeta Samuel Eto'o criou o conforto para que a máquina de futebol de Guardiola expusesse o seu arrebatador futebol, tricotado de pé para pé.
Em jeito de acordeão, o Barcelona ocupou a luz do Olímpico de Roma, compassado pelos maestros Xavi e Iniesta, adornado pelo solista piazzollense Messi. Para o Manchester United restou a funesta sombra, que abrumou a marca CR7.
No entanto, mais que o triunfo catalão, mais que o triunfo do mago argentino sobre a locomotiva lusa, o confronto desta noite permitiu sobretudo o triunfo da irreverência da juventude de Guardiola sobre o saber enraizado nos anos de Ferguson.
O dia das verdades parece ter sido ontem, mas os dias espalham-se como esse vírus de denominação versátil e corre Maio, maduro Maio.
As eleições europeias aproximam-se e as vozes, contagiadas por uma espécie de gripe asinina (recorrente no putrefacto ambiente político luso), dividem-se - umas querem falar de Europa, outras de Portugal - e, paradoxalmente, unem-se, incapazes de validar um acontecimento ciclicamente ignorado pelos portugueses, ocupados com os complexos cálculos do orçamento doméstico. No entanto, Sócrates, Manuela Ferreira Leite & Cia. sabem que talvez não seja despiciendo proceder à contagem das espingardas.
ZD encontrou, nestes dias espalhados, refúgio em terras do Minho. Monção, Barbeita, Arcos de Valdevez, Soajo, Ponte da Barca transfiguraram-se em abrigos do quotidiano - as muralhas de Monção, o rio Minho, os alvarinhos de Barbeita, a coerência de Arcos, o verde desnivelado do Gerês, o amarelo das giestas (remédio infalível para afastar a fome), a serenidade de Soajo, o alpendre da Casa do Cavaleiro, o refresco da capela, o verde tinto do Moinho e o reencontro com uma primitiva harmonia sob a Ponte da Ladeira.
Enquanto Vital Moreira com jactância exclama «Nós, europeus», ZD afirma com saudade «Eu, ladeirense».