Poderia ser parte do refrão do célebre hit de José Cid, porém não é mais do que uma singela saudação aos finalistas do Alemanha 2006.
O ano não tem sido favorável aos equipamentos azuis, e les bleus e a squadra azzurra confirmam a feliz tendência. Se o mundial germânico foi dominado pelo poderio defensivo de duas selecções que tinham sobretudo a virtude de neutralizar os ataques adversários, África do Sul 2010 cedo se libertou do temível e recorrentemente soporífero projecto destas duas potências do futebol europeu.
Prossiga a celebração do futebol que acredita no risco.
Interpelado pela proposta musical de fim de semana de JL, ZD debateu-se por breves instantes com a música portuguesa no século XXI. Eis o difícil saldo:
A morte decerto não surpreendeu José Saramago. Ele há muito lhe franqueou as portas:
«Assim é, minha filha, e quanto mais se for prolongando a tua vida, melhor verás que o mundo é como uma grande sombra que vai passando para dentro do nosso coração, por isso o mundo se torna vazio e o coração não resiste, Oh, minha mãe, que é nascer, Nascer é morrer, Maria Bárbara.»
«É o que eu sinto dentro de mim, Que sentes tu dentro de ti, Que ninguém se salva, que ninguém se perde, É pecado pensar assim, O pecado não existe, só há morte e vida, A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar, a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez» (Memorial do Convento)
ZD não viu, mas é possível que o jogo Eslováquia-Nova Zelândia (dois portentos do universo futebolístico) tenha sido o mais entusiasmante da jornada de ontem do Mundial 2010.
Considerar o grupo de Portugal o da morte é um dos frequentes exageros nestas lides. Mais ajustada será sem dúvida o grupo do tédio. Quatro equipas que colocam o ênfase do jogo nos processos defensivos e se sentem tremendamente confortáveis quando o adversário tem a bola (pois, por momentos, desaparece o terror de fazer um passe errado) são a negação do futebol enquanto jogo de risco: a finta, o drible, a abertura, o passe a rasgar, a desmarcação, o remate, enfim, a obsessão pela baliza do adversário.
Se houvesse nota artística, como diria o mestre Jesus, Portugal, Costa do Marfim, Brasil e Coreia do Norte teriam ontem deixado a África do Sul.
Eis o mundial de futebol de 2010, eficaz lenitivo para os dias que correm. África invadiu os ecrãs das televisões generalistas como um enxame de abelhas, poderosamente sugerido pelo som das vuvuzelas, e iniciou-se o desfile das selecções finalistas.
O ciclo de quatro anos abre o apetite, contudo este não é o mundial que se segue ao Alemanha 2006. África do Sul 2010 é o ponto culminante de um projecto que propõe o futebol como acontecimento inclusivo, que ostenta uma escala planetária e pseudo-combate uma hegemonia do hemisfério norte.
Hoje é o dia do grupo G, verdadeiro choque de continentes: um Portugal com um toque brasileiro, um Brasil com uma fiabilidade europeia, uma Costa do Marfim com estrelas dos campeonatos europeus e uma orientação sueca, uma Coreia do Norte ansiosa por agradar ao seu grande líder e alheia a uma Ásia que se ocidentalizou.
A Portugal saiu a fava: um grupo com um trio de candidatos à fase seguinte. O eterno Brasil - sem magia, mas pragmático -, a Costa do Marfim - a maior esperança do continente africano -, e Portugal - Cristiano Ronaldo e mais dez.
As dúvidas do onze titular português neste momento já foram desfeitas. Confirmadas as presenças de Coentrão e Danny, parece que o professor ainda conserva uma certa irreverência e, afinal, podem jogar as opções que denotam uma melhor forma.
O plano para a primeira fase é simples: dar na tromba aos elefantes, desagradar ao grande líder Kim Jong-il e mostrar a falta que Pepe, Deco e Liedson fazem à selecção brasileira.
Nota de rodapé (no limiar da invisibilidade) no mapa de concertos e festivais de um país, que, exangue, na música se refugia, a presença de Bonnie Prince Billy no Teatro Aveirense assumia para ZD uma feição litúrgica.
Num mundo que celebra avidamente o postiço, o artifício, Bonnie Prince Billy respira genuinidade e ergue os versos no seio de acordes que vêm das raízes da folk norte-americana, com um forte travo a Nashville. Ele canta e nós acreditamos.
Ontem Bonnie Prince Billy surgiu com The Cairo Gang (o brilhante músico Emmett Kelly), imergiu a plateia no The Wonder Show of the World, libertou-se dos microfones e amplificadores e, por um breve momento, inscreveu a esperança: Well I hope that someday soon / We' ll find peace in our lives.
Admiráveis músicos, admirável mundo - http://www.youtube.com/watch?v=CcsYipdssJQ