Se nos anos que antecederam 2012 ZD em vastas ocasiões invocou o termo tragédia para incipientemente definir o espírito dos tempos que corriam, 2012 será o reflexo do sentido dos versículos 9 e 10 do Salmo 41 - «Caiu sobre ele uma praga do inferno, / está deitado e nunca mais se vai levantar!». E, no entanto, por absurdo que pareça, há razões para lembrar 2012. Enumeremos aquelas que poderão considerar fúteis:
- A prova do Quinta do Vale Meão de 2009 e do Scala Coeli 2008 na Essência do Vinho e do soberbo Touriga Nacional da Quinta do Crasto num alpendre com vista para o serpentear das águas do Douro e rodeado por vinhas centenárias.
- A redescoberta de Andam Faunos pelos Bosques, obra-prima de Aquilino, autor que na prosa portuguesa apenas encontrará par em Eça, turvamente (des)considerado regionalista. Na senda deste romance a ZD impuseram-se ainda os sabores das páginas de O Malhadinhas e Quando os Lobos Uivam. Seguir-se-á, se o Francisco permitir, Terras do Demo.
- Com um ressaibo aquiliniano e compostos da vertigem do tempo que correu, corre e correrá, as narrativas Quando o Diabo Reza, de Mário de Carvalho, e Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa, também se transformaram em leituras prioritárias.
- Em 2012 ZD tornou-se um indefectível espectador de Boardwalk Empire, imponente fresco dos tempos da Lei Seca nos EUA e afluente maior da vitalidade das séries norte-americanas.
- Não são uma novidade, mas ao vivo Las Teclas del Negro (aka The Black Keys) são um impressionante carrossel de rock'n'blues'n'soul'n'roll.
Outras razões poderão ser acrescentadas, mas, para já, o pudor e o esquecimento colocam o ponto final nesta colheita.