A história de um coelho que imprudentemente não assegurou o cumprimento da sua função junto do seu harém de coelhas e deu origem a um belíssimo jantar onde assumiu delicioso protagonismo levou-me a julho de 2013, momento em que se me impôs a evidência de que em Portugal jazia mais um governo. Nove meses depois, apesar do cheiro pestilento, ninguém reclamou o cadáver deste governo. Portas boceja e cheira mal. Coelho fala e cheira mal.
As quatro décadas que carrego já me permitem deixar marca no entretecer deste tapete que é a língua portuguesa. Neste sentido, reclamo o cunho do neologismo «Cuniculopatia», composto morfológico que acrescenta o radical «patia», associado à ideia de perturbação, ao radical «cunicul[o]», étimo latino do nome Coelho. Com a bandeira impecavelmente alinhada na lapela do casaco, Passos Coelho insiste no delirante «Ou nós, dedicados patriotas, ou a bancarrota», e o país, de modo educado, respira fundo e tapa o nariz.