Eis o que me irritou de modo mais acutilante em 2014.
1. A bandeira portuguesa na lapela do casaco do Coelho e a evidência de mais um ciclo legislativo irrevogavelmente perdido.
2. A merda de cão nos passeios de Aveiro e Gaia que me obriga a caminhar com o olhar no percurso dos meus pés.
3. Entre a PACC e os concursos de colocação de docentes, o desvario.
4. As carvalhices do Bruno - após os tiros de pólvora seca em todas as direções, o tiro no pé.
5. A ópera bufa em que se tornou a discussão de final de ano: CR ou Messi?
Vislumbra-se 2015 e impõe-se a memória de 2014.
1. O recluso 44 do estabelecimento prisional de Évora é uma trágica evidência do pântano que nos engole. A descrença de um país no bando de oportunistas que ciclicamente assola o Palácio de São Bento e imediações enraíza-se e pontua o limbo em que Portugal se encontra.
2. Os festejos portistas e sportinguistas em 2014 concentraram-se nas derrotas do Benfica nas competições internacionais, o que diz tudo sobre a supremacia encarnada pelo território indígena. Não vai ser fácil voltar a ver o ataque do Benfica agitado por jogadores do calibre de Enzo, Gaitán, Markovic, Lima e Rodrigo.
3. Por entre tintos e brancos (e rosés), um autor impressionou: Anselmo Mendes. Um discurso que respira vinho, vinhos que inspiram discursos - experimentem o Curtimenta 2011 ou o Parcela Única 2012. A leste, o Douro e no segundo semestre de 2014 reforcei o meu entusiasmo pelos tintos Poeira e pela Quinta da Casa Amarela, em particular o Poeira 2011 e o Quinta da Casa Amarela Reserva Tinto 2011.
4. No reino da sétima arte, é verdade que recentemente me diverti com o JA a ver o delírio de «Penguins of Madagascar», porém, foi em «The Grand Budapest Hotel», de Wes Anderson, que me reencontrei com a essência do cinema e foi em «The Wolf of Wall Street» que constatei um novo fôlego de Scorsese.
5. Na música e na literatura, 2014 constituiu-se como mais uma etapa nas minhas empatias artísticas - Cave e Lanegan nas notas, Aquilino e Mário de Carvalho nas letras.