Cristiano Ronaldo não saiu de maca, Quaresma vestiu novamente a pele de Harry Potter e Nuno Gomes, contrariando a sua falta de vocação para o golo, tornou-se o quarto melhor marcador de sempre da selecção nacional.
Quatro golos vergaram a incompreensível, e por isso estúpida, arrogância de uma selecção belga que se tem arrastado em fases de qualificação, suspirando nostalgicamente por tempos passados mais animadores.
A selecção portuguesa, com pontuais dificuldades perante a ausência de jogadores fundamentais como Deco e Simão Sabrosa, sem um lateral esquerdo e um ponta de lança indiscutíveis, mostrou o carácter necessário e não claudicou diante da acessível Bélgica.
A primeira parte colocou algumas reservas. Não existiam dúvidas em relação à superioridade portuguesa, todavia alguma falta de lucidez no desenho final das jogadas ofensivas permitiu o intervalo sem golos.
A segunda parte revelou o melhor Portugal dos últimos tempos, pressionante, dinâmico, capaz de romper e eficaz na concretização. Destaques:
1. O triângulo do meio-campo foi fundamental (Petit e João Moutinho em boa forma, Tiago realizando provavelmente a melhor exibição com a camisola nacional). Costinha e Maniche são águas passadas.
2. Cristiano Ronaldo é o fulcro, é ele que determina a intensidade dos diferente momentos da partida, é dele que se fala antes dos jogos, é dele que se fala depois dos jogos.
3. Quaresma não tem o fulgor de Cristiano, nem o estatuto, mas tem a trivela. Este tipo de passe/remate, de acordo com a Wikipédia, é relativamente recente e apresenta um grau de dificuldade acentuado. Quaresma, o principal divulgador deste gesto técnico, esquece ocasionalmente os movimentos defensivos, é algo intermitente, contudo descobriu na trivela o seu número de magia.
4. O abominável Nuno Gomes falhou mais uns golos, errou alguns passes e aumentou a saudade do temível Pauleta. Ultrapassou acidentalmente Rui Costa na lista de melhores marcadores da selecção nacional, mas o sucessor de Pauleta está anunciado: Hugo Almeida (se não for possível a naturalização de Liedson ou Bueno).
Nuno Gomes não terá o instinto de matador (ou seja, a frieza letal dos maiores pontas de lança) e sempre evidenciou maior rendimento acompanhado na grande área, mas o futebol português, com a excepção do enorme Eusébio, nunca produziu pontas de lança de nível mundial. Se atentarmos nas últimas décadas, os jogadores excepcionais - Chalana, Futre, Figo, Cristiano Ronaldo - têm surgido nos flancos (aqui mais uma excepção para o génio de Rui Costa que se sente mais confortável no centro do terreno) e concretizar as oportunidades criadas tem sido um problema recorrente da nossa selecção.
O quarto melhor marcador de sempre da selecção portuguesa, o jogador ainda em actividade com mais golos marcados no campeonato português não necessita certamente que lhe descubram o mérito. Será suficiente olhar para o percurso de Nuno Gomes sem a miopia clubística.