As noites de quarta-feira são no menosprezado canal 2 (onde a qualidade da programação ultrapassa largamente a dos outros três canais emitidos em sinal aberto) noites de 24, noites em que o agente Jack Bauer dá conselhos (sempre úteis) sobre como lidar com ameaças terroristas.
Ontem houve dose dupla. O primeiro episódio curiosamente decorreu no estádio da Luz e teve a invulgar duração de noventa minutos. Os terroristas ucranianos tinham um estranho sotaque brasileiro, Jack Bauer trazia o número 10 nas costas e a CTU encarnada uma vez mais demonstrava-se incapaz de deter novo assalto terrorista.
Durante um episódio de 24 somos invadidos por uma angústia, adensada pela recorrente presença do relógio digital que salienta o escoar do tempo, crentes numa improvável reviravolta. Jack Bauer é o anti-herói, assassino profissional e pouco escrupuloso da unidade de contra-terrorismo, ocasionalmente sacudido por hesitações éticas, contornando espectacularmente obstáculos incontornáveis, sacrificando, se necessário, um companheiro em prol do sucesso da missão.
Durante o jogo Benfica - Shaktar a angústia esteve omnipresente e os golos encarnados ausentes. Rui Bauer Costa foi inteligentemente neutralizado pelo meio-campo ucraniano e Bill Camacho Buchanan impotente para alterar o rumo dos acontecimentos.
A ZD, após esta desmesurada (mas obsessiva) dose de angústia, resta esperar pela noite de quinta-feira, véspera da celebração do aniversário da implantação da Primeira República em Portugal (e ZD não é monárquico) que estende o fim de semana, e pela misericórdia de uma garrafa Periquita Reserva 2004.
P.S. A partir do dia 8 de Outubro as noites de segunda-feira são noites de Sopranos, noites do canal 2, noites para relembrar o esquecido apito dourado e acompanhar o Tony Soprano da Costa.