Dizem que o homem é um animal de hábitos.
A revolta contra a rotina, uma vida organizada à volta de pequenos hábitos que tornam o quotidiano confortável, não passa de verniz.
ZD é um animal de hábitos. Ganhou na sua distante juventude o hábito de devorar jornais nos bancos do autocarro, sobretudo o jornal Público, cujo nascimento, infância e juventude acompanhou. O hábito de andar de autocarro cedo foi perdido com a aquisição de um pequeno renault clio, porém subsistiu o hábito de ler o Público, de sentir o cheiro a tinta e papel logo de manhã, se possível acompanhado por uma bica.
Com o correr do tempo, a internet diluiu parte significativa da sofreguidão em relação a este hábito. Sem sair de casa, no ecrã do computador, o sítio electrónico do jornal Público (um caso de fidelidade) oferece a ZD o essencial da informação dia após dia.À sexta, contudo, ZD mata a saudade do cheiro a tinta e papel com a volumosa edição do jornal Público (como não poderia deixar de ser).
Neste ano tornou-se um hábito (prazer de características vulgares), na manhã de sexta, partir para Espinho no comboio urbano, desfolhar as numerosas páginas do jornal e entrever a costa na janela. Uma pequena mudança no horário esta semana vitimou aparentemente este hábito.
No entanto, obrigado a conduzir o carro para Espinho, ZD, ainda dormente, não resistiu, parou na estação de serviço da auto-estrada para repor os níveis de cafeína, tinta e papel.
P.S. ZD, apesar de reconhecer um substancial cinzentismo a VPV, não pode deixar de sublinhar a acuidade da sua crónica de hoje num certo jornal (que agora não vem à memória). Esta perseguição aos que fumam vai dar lugar à perseguição aos que bebem, segue-se os que comem carne e por aí fora. Não há paciência.