Mais um ano que encontra o seu Dezembro crepuscular e propício para balanços mais ou menos irrelevantes.
Ponto de partida, Minho, com mais rigor geográfico, Paredes de Coura. Aqui decorreu o festival musical mais arrebatador dos últimos tempos. O cartaz, com um travo a pop rock alternativo fortíssimo, é irrepetível: entre as más sementes de Nick Cave (convertido ao gospel) e as nostálgicas descargas eléctricas pixianas, brilharam os cometas Arcade Fire e os indecifráveis !!!. Como alguém disse, quem lá esteve terá sempre Paredes de Coura.
Segue-se o Glorioso (título algo irónico se perspectivarmos um passado recente), de novo campeão nacional e com uma participação interessante na Liga dos Campeões. Intermitente e ainda relativamente frágil, o Benfica deixou de dar tiros no próprio pé e aproveitou a displicência alheia, que, com uma crise de vesícula aguda, quis menorizar o campeão, usando a confusão habitual da bola com o apito.
No percurso por páginas literárias, ZD confessa que andou às voltas com obras não muito recentes, mas a leitura de "O vento assobiando nas gruas" de Lídia Jorge confirmou-a como voz maior do romance português e o confronto com "Era bom que trocássemos uma ideias sobre o assunto" de Mário de Carvalho evidenciou um humor ácido e invulgar na prosa que por cá se faz.
Musicalmente, surgem de novo os Arcade Fire e a obra-prima "Funeral", aclamada por todos quadrantes e inevitável. Também incontornáveis: "Get behind me Satan" dos diabólicos The White Stripes, "Antics" dos marciais Interpol (somente descoberto em 2005) e "You could have it so much better" dos regicidas Franz Ferdinand.
Por fim, na sétima arte, um ano franciscano. Depois de um início promissor, com mais um clássico cortante do enorme Clint Eastwood - "Million dollar baby" - seguiu-se uma relativa aridez. Alguns oásis: a ironia açucarada de "Charlie e a fábrica de chocolate" de Tim Burton, a África de "O fiel jardineiro" de Fernando Meirelles, o desconcertante thriller "Wallace & Gromit: A maldição do Coelhomem" de Steve Box e Nick Park e o visceral "Oldboy" de Park Chan-Wook (Palma de Ouro em Cannes 2004, mas experienciado em 2005).
P.S. No título deste artigo, onde se lê Antologia de 2005, deve-se ler, Zorro Danado: Colheita de 2005