Depois disse a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado. Não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu a Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus disse: «Acreditaste porque viste. Felizes os que acreditam sem terem visto».
EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO
Próximo da invisível linha do equador, o avião hesita entre amarar e aterrar. Às dezoito horas a noite já caiu em São Tomé (os dias duram religiosamente doze horas). No aeroporto os turistas são aguardados por dezenas de jovens que festivamente tentam garantir a generosidade dos que chegam.
A cidade de São Tomé é um fervilhar de cores e odores. O movimento é intenso junto ao mercado, onde, da janela da viatura, se trocam centenas de euros por milhões de dobras e o cheiro é nauseante. Nas esburacadas ruas domina o amarelo dos táxis.
Rumo a Bombaim nesta ilha africana. Réstia de um império ultramarino que uniu quatro continentes, outrora uma roça, hoje um hotel decadente, o futuro incerto, Bombaim marca o encontro com o óbó, a pujança do verde, a água que se atira em cascata, o cacau, a fruta pão. A gravana, a estação seca, atenua o confronto com a selva equatorial e esconde o sol.
Segue-se o Pingo Doce e o salão de beleza de Trindade, o abandono dos edifícios e as crianças de Monte Café, os pescadores, o peixe, os porcos, as escamas embrenhadas na areia da praia de Gamboa, a paradisíaca praia de Santana.
As praias do norte de São Tomé são irresistíveis explosões de verde junto ao azul tépido do mar. Os caminhos de acesso a estas praias são verdadeiras provas de resistência todo-terreno. Os mergulhos na Lagoa Azul, na Praia dos Tamarinos e na Praia das Conchas são experiências fulgurantes. No caminho oportunidade para roer a cana de açúcar e testemunhar a jovialidade dos são-tomenses. Antes das santolas em Neves numa marisqueira onde à porta circulam leitões, passagem pelo Padrão e aperitivo com cocos junto ao túnel de Santa Catarina.
No Jardim Botânico do Bom Sucesso surge o óbó inventariado e comprova-se a magnanimidade da natureza.
O sul de São Tomé é gémeo do norte na beleza estonteante da paisagem, na pobreza alegre das gentes, nas estradas esburacadas invadidas pelo óbó. Em Água Izé de novo o cacau e as crianças da roça e em São João dos Angolares o peixe com flor-mosquito e o doce de carambola. O embarque para o ilhéu das Rolas, onde se encontra a linha invisível do equador, acontece em Ponta Baleia. O mar agitado e o cair da noite tornam difícil de distinguir uma piroga de pescadores de uma baleia.
ZD acreditou em São Tomé sem ter visto.